Saturday, November 17, 2012

Morno

      Saturada dessas pessoas que não conseguem escutar o que lhes é dito. Falei que sou fogo e que com fogo ninguém brinca, mas a pessoa dá uma de teimosa e se incendeia. Por que diabos você vai pisar em uma rosa se sabe que ela tem espinhos? Não sou de ficar mandando mensagens amorosas para que acorde sorrindo e percebendo o quanto me ama. Nem gosto de receber esse tipo de coisa. E aí a pessoa insiste no erro, burrice.
      Não me traga reclamações, já sei que não sou perfeita. Agora vejamos, uma coisa é não ser perfeita, outra é não ser perfeita para você. Eu avisei. Você quis tentar. Eu deixei, mas não vou mudar. Quer saber? Vai procurar alguma que veja maravilha no seu romantismo, pois eu sou daquele tipo que não suporta "nhem nhem nhem". Acho que até já sabe que o limite não fica muito longe quando eu, a que não tem lá muito sentimento, percebo que não faço bem à pessoa que me quer bem. Por isso digo: quero terminar.
      Terminar o que? Sinto-me boba ao falar essas palavras combinadas para alguém com quem nunca comecei absolutamente nada. No entanto, mas uma vez sou apenas eu que tenho essa sensação de história sem começo.
      Realmente sinto muito por ter topado te fazer passar por isso sabendo que não ia sair coisa boa. Dar esperança a alguém que já tem é só maximizar o sonho irrealizável. Prometo que quando esbarrar em você por ai apenas direi "oi", não perguntarei "tudo bem?". Afinal, por que iria perguntar algo se já sei a resposta? Se quiser fingir que não me conhece, tudo bem. Fica mais fácil de apagar de memória.
      É hora de acordar e encarar a dura realidade. Fogo queima e machuca, pode até deixar cicatriz, e se deixar, faça de tudo para esquecer a razão de ela estar ali. Espero que encontre algo menos quente e não tão gelado. Alguém que aqueça no frio e esfrie no calor.

Saturday, November 3, 2012

Beco sem saída

      Ficava brincando com meus olhares, enquanto eu tentava desviar a atenção para qualquer outro ponto daquele lugar. Você sendo o sul do meu norte e ficando impossível fugir desse magnetismo. As luzes coloridas me sacaneavam levando todo foco para o canto que você estava. A música parecia ser escolhida minuciosamente por seus quadris.
      - Garota, me diga o que você quer de mim - eu pensava.
      Uma bebida, duas, três. O suor do prazer descendo e molhando minhas vestes. Virei minhas costas para  respirar o ar que não me levava a você. Troquei palavras com amigos, dancei com desconhecidas. Distração para mente concentrada é enganação. Olhei no espelho e vi você ao meu lado, distante, mas comigo. Apenas queria ser corajoso o suficiente para agarrar aquela cintura perto de mim e te fazer sentir o que estava sentindo.
      Quatro, cinco, seis. Um pouquinho mais de álcool para acalmar as vontades. Merda. Claro que isso só ia potencializar o desejo de despir seu corpo e rasgar seu veludo. Um passo em sua direção. Pernas começando a amarelar. Dois passos para trás. De volta para o bar. Sete, oito, nove. Minha cabeça já girava mais rápido que seus rebolados. Pés caminhando sozinhos e seguindo o curso natural da luxúria.
      Finalmente podia sentir seu cheiro e isso só me deixava com a pele pegando fogo.
      - Olá - foi a bosta que falei.
      Esperta era você, que me respondeu sem palavras. Com um sorriso malicioso e olhos vampirescos, se aproximou. Abraçou meu pescoço e embalou meu corpo no ritmo do seu. Vagarosamente enroscava em mim, rapidamente aumentava minha sede.
      Com o lugar lotado tive de contar meu animal que estava pronto para devorar a presa aparentemente indefesa, mas você tinha tudo muito bem pensado, não é?
      - Vem comigo - com os lábios pintados de vinho sussurrou com ar erótico em meus ouvidos.
      Sem sinal de recusa agarrou minha mão e me tirou da multidão. As cores das luzes iam sumindo e se resumindo a escuridão. Passamos por uma porta que nunca havia notado. Logo estávamos a sós em um beco pouco iluminado e com o frio da cidade.
      A vampira avermelhou meu pescoço, agarrou meu cabelo. Abriu minha boca em um gemido. Era ali. Nem no momento mais sóbrio da minha noite eu poderia imaginar que conseguiria sentir tanto prazer com um só toque. Não podia parecer abobalhado, agarrei sua cintura, desci para o quadril. Apertei a bunda voluptuosa daquela mulher que sugava qualquer ponta de inocência que ainda poderia haver em mim. Nossos lábios apressados insinuavam libertinagem. Uma cena pouco vista, mas muito frequente entre quatro paredes. Mãos correndo para o centro da euforia. A baixa temperatura parecia não existir, pois os corpos transpiravam. Calças baixadas, vestido acima do umbigo. A dança dessa vez intencionava satisfação. Suas garras afiadas rasgavam minha carne e isso só me deixava com mais anseio de sangrar tua exaltação. Apertava meu corpo contra o teu. Os gemidos, que iniciaram em um volume muito baixo para ser escutado por qualquer um que decidisse andar pela calçada mais próxima, viraram gritos. O ritmo da música que criávamos ficava mais rápido e tudo que mais queríamos estava cada vez mais próximo.
      Um último arranhão em minhas costas, uma última lambida em seu pescoço, um último gemido simultâneo e estávamos completos mesmo descarregando um pouco de nós. Olhei para o céu pouco estrelado e ouvi uma voz trêmula vinda de baixo:
      - Minha casa ou a sua?

Friday, November 2, 2012

Túnel

      As luzes escurecendo, o corredor se distanciando. Sua imagem se modificava. Eu nunca quis nada além do que tivemos. Tudo era perfeito enquanto estava perto da sua respiração, do seu toque, do seu calor. Até a raiva que fervilhava em nossas discussões parecia melhor que qualquer beijo com qualquer outro alguém.
      Meu corpo não correspondia aos meus desejos e eu não conseguia lutar contra aquela força, pois não tinha mais suor, imagine sangue para guerrilhar com unhas e dentes pela única coisa que balançava minhas pernas, cansava minha mente, vencia minha dor. Queria te ter para mim e nada mais seria necessário. Meu diabinho, no entanto, gritava no pé do meu ouvido "você precisa crescer". Nunca havia entendido o apelo do maldito até o dia em que sorrir depois de muita lágrima não anulou o sofrimento.
      Pedir desculpas não vai desfazer qualquer uma das minhas atitudes que te fizeram correr de mim. Mesmo que eu tivesse essa opção, não iria escolhê-la. Entendi o que quer dizer crescer, o que quer dizer finalmente perceber que o que eu achava que me levava para frente só me puxava para trás. Não me leve a mal. Eu te amava. Mentira. Eu te amo. Não consigo parar de pensar em todas as cenas de reconciliação para o dois que já foi um.
      Aqui estou, fragilizada por dentro, machucada, cansada, saturada. Quero seus olhos fitando os meus, quero me humilhar chorando aos seus pés e fazer tudo voltar ao primeiro momento de nossas vidas entrelaçadas. Fico em pé, parada. Deixo o corredor embaçar sua figura. Não corro, não grito. Fico ali, deixando o curso natural das coisas curarem essa vontade, esse amor malcriado. Viro minhas costas para aquilo que um dia chamei de "para sempre", dessa vez eu caminho, não na direção que me puxava para o fracasso, mas na direção que eu julguei ser sucesso. Quebrei as correntes invisíveis, joguei o cadeado no lago dos sem salvação. Libertei o que costumava chamar de "eu".