Thursday, November 26, 2015

#meuamigosecreto: a tag do momento

      Uma tag polêmica para quem não entende, e reconfortante para quem percebeu seu verdadeiro significado. Um mimimi que só deixa de ser mimimi quando enxergamos o motivo real de cada manifestação. Muito me entristece ver que algumas pessoas ainda não compreendem o motivo da luta, do movimento. No entanto, muito me alegrou e orgulhou ver que tantas pessoas que são meus amigos no facebook abraçaram a causa e se manifestaram. Vale ressaltar que muitas dessas pessoas são meus amigos de facebook e ponto. Pessoas que adicionei ou me adicionaram como amigo, mas nunca trocamos mais de três palavras. Pessoas que, apesar de distantes, me confortaram com as palavras.
      Ainda há muita gente que entende mal o feminismo e insiste em propagar sua ideia errônea sobre ele. Num mundo em que a informação vem como enchente para a gente e que basta um pouco de bom senso para verificar a veracidade delas, ser ignorante é escolha. Mas para quem ainda não entendeu o significado, aqui está:
"s.m. Doutrina cujos preceitos indicam e defendem a igualdade de direitos entre mulheres e homens.
Movimento que combate a desigualdade de direitos entre mulheres e homens.P.ext. Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.(Etm. do francês: féminisme)" 
Fonte: Dicio 
      O foco do texto não é o feminismo, mas era importante falar sobre isso para discutir essa tag linda de viver. Da mesma maneira que muita gente entende mal o movimento, muita gente entendeu mal a tag. Por isso me sinto na obrigação de esclarecer o intuito dela. A tag procura a denúncia, o desabafo, a identificação com as situações ali expostas. E como falei, procura abraçar à distância cada uma das pessoas que foram vítimas do machismo, da desigualdade.
      Não adianta discutir com algumas pessoas sobre o assunto, pois pessoas com argumentos sem fundamento, não conseguem validar o argumento do outro. Portanto, expor tais casos torna-se importante. Não é indireta. Nós não queremos que a pessoa responsável pelo trauma se sinta atingida, queremos que quem está lendo se sensibilize. Expor os casos de machismo ajuda a enxergar o machismo. Muita gente é machista sem saber, seja mulher ou homem. Nossa sociedade, infelizmente, nos ensinou e ensina muito sobre o machismo e como ser machista, por isso precisamos mudar. Os casos que seguem a tag não são mimimi, são a realidade, a triste realidade. E como a tag, esse texto é para abrir os olhos.
      Vamos falar de alguns casos e refletir sobre eles? Vamos!
#meuamigosecreto era mais que meu amigo, mas isso não impediu que ele abusasse de mim bêbada em um chão de banheiro falando "não" enquanto me tapava a boca
       "Mas se eles eram mais que amigos, qual o problema?" argumento ridículo para alguns, mas válidos para quem ainda não enxerga a seriedade de ser obrigado(a) a fazer algo que não quer. Quando alguém diz não, é não. Não tem algo mais nosso que nosso próprio corpo, e até acerca dele não podemos decidir o que fazer ou deixar de fazer?

#‎meuamigosecreto‬ já ganhou vários prêmios, tem mestrado, artigos publicados, todo mundo acha que ele é o máximo... mas ele acha que ficar bêbado e usar drogas é desculpa pra te constranger na balada, afinal, depois ele nem vai lembrar mesmo, né?
      E para quem acha que títulos e prêmios intelectuais definem a personalidade e conduta de alguém, está aí um bom exemplo de que não é bem assim que a banda toca. Ele vai esquecer o que fez, mas ela vai lembrar, não é mesmo? Quem faz a cena é ele, mas quem passa o vexame é ela.

‪#‎MeuAmigoSecreto‬ espancou a ex-namorada quando ela disse estar grávida. Enquanto chutava violentamente a barriga dela, berrava que ela era uma vadia que não sabia fechar as pernas. Ele era um coitado seduzido. Hoje ele posta conteúdo pró-feminismo no Facebook.
      Quando falamos que atitudes falam mais do que palavras. Ele pode ter se arrependido? Pode. Pode ter mudado? Pode. Mas será que ele. pelo menos, pediu desculpa? Será que ele se traumatiza tanto quanto ela? Não sei o que ele pode fazer para recompensá-la, ou até se existe algo que a faça. Sei apenas que antes mesmo de ferir o direito dela, de machucá-la fisicamente e psicologicamente, ele poderia ter parado por 2 segundos e refletido. Colocar a mão na cabeça, respirar fundo, suar frio agir como alguém que se solidariza e procura ajudar. Se ele tivesse feito qualquer uma dessas coisas, será que ele teria batido nela mesmo assim?

‪#‎meuamigosecreto‬ manipula e destrói a auto estima das meninas com quem se relaciona e deixa claro que elas não podem terminar com ele porque ninguém mais vai querer ficar com elas, que ele está fazendo um favor
      Vamos começar com os mindgames? Que tal tentar entender porque alguém tem que rebaixar, para se sentir nas alturas. Cadê a ideia linda de dar as mãos e crescermos todos juntos. Aliás, que tipo de favor é esse que invés de ajudar, só atrapalha? Ser dono do próprio umbigo não significa colocá-lo no centro do universo.

‪#‎meuamigosecreto‬ se posiciona contra a essa tag, diz que mandar indireta não ajuda em nada e que todas nós devemos resolver nossas questões pessoalmente. Ele só esqueceu de dizer que o mundo não está preparado para a sinceridade de sentimentos de milhares de mulheres que se doem e sofrem o machismo na pele diariamente, e que provavelmente ele escutaria ela falar e sairia dizendo para os amigos "aquilo é uma doida, desequilibrada e grosseira".
      Preciso falar mais alguma coisa?


      A tag não é indireta. Se fosse indireta, tinha tanta gente se doendo que não ia ter Pablo que desse jeito. Espero que nessa altura do texto, você que está lendo, tenha entendido a beleza e a necessidade da tag. Espero que, você que já entendia, tenha se sentido ainda mais representado ou representada. Falo nos dois gêneros sim, porque apesar da grande maioria ser um desabafo vindo de mulheres, vale lembrar que o machismo ataca de maneira independente. Homens e mulheres sofrem diariamente com comentários e atitudes machistas. Quer um mundo igualitário? Vamos começar respeitando, se conhecendo e reconhecendo.
      Espero que o momento dessa "tag" jamais passe.
     

Monday, November 9, 2015

Terceiro - Capital Belga

      Um pouquinho atrasada, mas queria muito falar da minha primeira viagem pela Europa estando tão perdida quanto a pessoa que estava comigo. Claro, morar numa cidade nova causa o mesmo impacto, ou semelhante, ao de viajar para uma cidade completamente estranha. As sensações que te são proporcionadas são inigualáveis em cada viagem, mas elas repetem padrões. A primeira viagem foi para Bruxelas. Primeira vez que viajei só nesse continente imenso e cheio de história. Para começar, devo agradecer imensamente à tecnologia que me permitiu chegar ao hostel sem muitas complicações. Óbvio, ainda me perdi pela estação em que meu ônibus parou, fiquei com medo de ter entrando no tram errado, passei umas 52 (com exagero) paradas para finalmente acabar com minha agonia e chegar na parada desejada. Não era o destino final, mas ainda assim já é uma realização maravilhosa. Saber que você não se perdeu em uma cidade que nunca foi, em um país que a língua mãe você não entende, já é um bom começo. Andei um pouquinho para chegar no hostel, mas achei sem muito esforço e sem muita agonia, por uma vez na vida. Chegar sozinha em um hostel e perceber que você é o único ser do sexo feminino naquele momento é um pouco assustador, devo dizer. Senti como se uma matilha de lobos me observasse como uma presa em potencial. Uma hora depois fui salva pelo queridíssimo companheiro de viagem e pudemos começar a traçar a viagem.
      Devo dizer que nossos planos antes de chegar mudaram completamente ao chegar. Dois inocentes que pensavam que seria possível viajar três cidades em três dias. Dois doentes, literalmente, que decidiram que Bruxelas era aventura suficiente para três dias. Se não fosse a falta de euro, de saúde e disposição, se não fosse a falta de planejamento, aí sim poderíamos ter cumprido com os planos. No entanto, eram muitos empecilhos para umas só viagem.
      Não sei ao certo como cada um gosta de viajar, mas em Bruxelas eu descobri como eu gosto. O bom de viajar é sentir a cidade, curtir, não planejar à risca cada minuto. Para aproveitar, não rola cronometrar. Sem muitos planos, no primeiro dia a gente caminhou pelo centro da cidade. Perdeu a noção das estações e ficou feito barata tonta procurando um jardim inexistente. Repare, flores não estão a vista durante todo ano, e dois aspirantes a biólogos demoraram um bom tempo para chegar a essa conclusão. Quando nos encontramos desesperados acabamos fazendo umas burradas como essa, é normal. Há males que vêm para o bem, e de tanto errar acabamos descobrindo coisas maravilhosas: galerias com lojas de chocolate lindas, porém caras; mercadinhos que mais pareciam um submundo; pessoas tão perdidas quanto a gente; e o melhor de tudo, encontrar, por acaso, o que estávamos procurando. Desse modo chegamos ao Delirium Café, o qual faz jus à sua fama, mas decepcionou dois brasileiros que estavam com sede de cervejas com gostinho brasileiro. Porque brasileiro saudosista é assim, paga o dobro ou o triplo do preço só para sentir sua naçãozinha de novo. No entanto, essa não foi a vez. Apesar do extenso cardápio com cervejas do mundo inteiro, a que desejávamos estava em falta. Como todo bom turista, não saímos de mãos vazias. Delirium abaixo, papo descontraído e deixando a nossa marca na mesa de madeira, saímos feliz e satisfeitos com a conquista de encontrarmos aquele lugar impossível de perder quando se está em Bruxelas.
      Os dias seguintes foram mais bem planejados, visto que tínhamos tempo e internet no hostel para evitar qualquer confusão quando estivéssemos no meio da cidade. De muita utilidade foi ter um celular com bateria duradoura e com GPS. Demorei algumas outras viagens para pegar as manhas do GPS, mas isso falo em outros capítulos. É possível que daqui há cinco anos ainda estarei escrevendo coisas sobre esse ano de ciências sem fronteiras com dicas, sensações, ideias. Foi muita experiência diferente que fica difícil compilar em poucas histórias, sem contar que alguns detalhes não vêm na hora que a gente que, não é mesmo?
      Enfim, o texto já está bem grandinho e faz meses que estou com o rascunho dele. Então deixemos ele por aqui. Organizarei melhor o cronograma de Bruxelas para depois dizer que valeu e não valeu a pena.