Com uma taça de vinho e uma festa rolando do outro lado da rua (a qual não irei), começo esse texto. Talvez seja só uma lista, um trecho de auto ajuda. Não decidi ainda, mas aqui estou eu escrevendo.
Por muitas vezes, como muitos de nós já nos sentimos, pensei que não conseguiria fazer nada sozinha. Sempre achei reconfortante ter a companhia de alguém para esperar uma consulta ou resolver uma problema que requer pegar uma fila quilométrica. A solidão me ensinou que posso fazer o que quiser sozinha. Na falta da companhia para jantar, coloquei uma música que preenchia a casa e cozinhei para mim. Por muitas vezes fiz o suficiente para cinco pessoas, e por cinco dias comi a mesma coisa. Sozinha. Quando a calada da noite ficava muito barulhenta com meus pensamentos, joguei um filme na tela do meu computador. Quando quis ver gente, mas ninguém queria me ver, saí sozinha. Percorri as ruas, observei os prédios, senti a cidade, absorvi perfumes. Desenhei todas as paisagens em minhas histórias.
Quando me senti carente, abracei minha cintura. Nos dias que nada parecia dar certo, fiz algo que infalivelmente me trouxesse alegria. Comprei uma blusa; li um livro; escrevi um texto; ajudei alguém; dancei no meu quarto, na sala, na cozinha, na varanda; fiz caretas para meu reflexo; sorri para o porteiro; elogiei um estranho; me joguei no mar. Quando a cama ia ficando muito grande só para mim, dei um jeito de preencher ela todinha. Mais travesseiros, pernas para um ponta, cabeça para outra. Nenhum vazio era grande demais para mim. Tentei compensar a falta de altura com um exagero de personalidade. Fiz amizades. Estar só, me permitiu conhecer pessoas. Vagar sozinha me fez observar casais e querer ter aquilo para mim. Fez com que eu percebesse que ser uma observadora também pode ser o suficiente. Às vezes. Eu quis brincar com cachorrinhos na rua, brinquei; quis comer uma pizza inteira, comi; quis sentir os grãos de areia entre meus dedinhos no meio da madrugada, senti. Meu corpo me levou para todos os cantinhos do mundo que minha cabeça desejou.
Estar sozinha é ter ninguém para te fazer desanimar das tuas vontades, mas, ao mesmo tempo, é ter que aprender a se colocar para cima, porque não há uma alma ali que fará isso por ti. Estar sozinha é aprender que teu corpo pode dar um basta nas tuas vontade. É conhecer teus músculos para saber quando eles cansam, conhecer teu coração para saber quando ele chora, e, especialmente, conhecer tua mente quando ela joga pedras na tua confiança.
Principalmente, meus caros, estar só, não é se sentir só. É, muitas vezes, se preencher de novas experiências e novas pessoas, mas também escolher ser sua própria companhia. É perceber que você pode se amar uns dias, e não conseguir nem se olhar no espelho em outros. Porém, entender que o espelho não te reflete por completo, que teus olhos não te mostram toda verdade. Entender que alguns dias podem ser ruins, mas que dias melhores vão chegar. Estar só é mergulhar de cabeça mesmo com medo, é nadar contra a corrente mesmo quando acha que não tem mais forças, é finalmente perceber que todo dia você se supera, se renova, se reinventa.
Sozinha, aqui, percebi que menti no título. Eu não aprendi a ser feliz sozinha. Diaramente, tenho descoberto as maravilhas e as armadilhas da solidão. Descobri que palavras negativas podem se tornar positivas, e vice versa. Que elogios podem soar como insultos, e insultos podem te blindar. A solidão não me puxa para baixo, estar sozinha nem sempre é ruim. Às vezes, inclusive, é minha escolha. Eu estou a pren den do. Sílaba por sílaba. Pouquinho por pouquinho. Portanto, sem querer iludir ninguém, não tenho a fórmula da felicidade. Tenho apenas sugestões.
Descobre o que te faz bem e usa ao teu favor. Não deixa que a mera ausência dos outros seja ausência de si também.