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Monday, November 17, 2014

Dezessete de novembro

      Estou aqui sentada procurando palavras na minha cabeça para colocar em um texto imerso em alívio. Nem sei ao certo do que tento me aliviar, apenas sei que preciso. É o que acontece quando a vida me propõe inconstâncias tão constantes e eu fico sem muito o que dizer ou decidir. Tentarei me manter às minhas promessas internas de escrever apenas o que não me expõe, não me dilacera, não deixa meus pedaços expostos e passíveis a análises externas.
      As noites vão passando, as sóbrias me mantêm focada na solidão e as bêbadas escancaram meu sorriso. Um pouco difícil se manter impenetrável quando lá no fundo nem sei ao certo se é exatamente o que quero. Até me pego considerando envolvimentos, amores e dores. Porque é assim, afinal de contas. Quem se sujeita a algo tão bom tem que se preparar para tudo de ruim que isso pode carregar. A vida é assim o tempo inteiro se formos entrar em miúdos. Olha, e eu sou boa com esses miúdos. Cato até os microscópicos para me preocupar. Uma habilidade raríssima, apenas mais uma das regalias que a auto-destruição te presenteia, mas isso fica para os próximos capítulos.
      Eu fico aqui martelando umas possibilidades, umas loucuras, procurando me entreter com uma lista de músicas que me inspirem a algo, mas a recente leitura crua que fiz de certa literatura me inspira a fazer semelhante. Hoje estou pronta para bonitas palavras, porém elas não me vêm com um sentido. Estou tentando manter minha promessa, prometo. Vou reorganizar esse quebra cabeça e escrever algo que seja compatível ao que eu gostaria de colocar me um texto de fato.
      Escuto uma voz cantando no meu ouvido todas as possibilidades de histórias que poderia contar. Tudo que eu posso imaginar, criar, viver fora da realidade. Apenas preciso focar em um tema, apenas preciso pegar as histórias que me surgem nas noites de embriaguez e colocar em um papel. Não deve ser tão difícil escrever palavras alcoolizadas desencadeadas pela lua, pelas estrelas, pelos olhares, pelas observações. Por tudo que se passa ao meu redor e dentro de mim enquanto estou disposta a me expor, aberta a análises. Ou seria outro estado de espírito completamente inalcançável ao estar envolta pela nuvem de sobriedade? Penso que logo irei saber, a qualidade das palavras arranjadas em um texto vai apontar minha capacidade de fantasiar mesmo estando tão fechada, tão indisponível.

Tuesday, May 6, 2014

Medo do escuro

      Ela estava fora, só. Tudo escuro, mas não o suficiente para cegar. Apenas escuro pelo cair da noite, nada assustador. Não, a ausência de luz não assustava, o que causava arrepios era o silêncio. Podia ouvir os pelos de seu braço eriçarem, escutava claramente o tambor em seu peito, tão alto que tornava-se incoerente temer o silêncio. No medo tinha tambor, então não havia silêncio. No silêncio havia medo, então tinha tambor. Confuso, mas intuitivo.
      Apenas o carro dela recém estacionado e mais dois. Estava trancada do lado de fora, ela sabia. Ainda assim continuava andando em direção àquela porta que fica tão perto pela manhã, porém distante demais para a noite. A curva que a levava para a segurança era tão encoberta pelo preto. Dava mais medo arriscar que sentar e esperar alguém salvá-la.
      Muito ela ponderou em um minuto. Esses sessenta segundos em que o atraso mental te deixa estático por tempo suficiente para o mundo dar três voltas e você nem perceber. Com ela não foi diferente. Não era frio, mas ela se sentiu naqueles filmes de terror: o clímax durante a noite chega junto com uma névoa horripilante. Ao visualizar aquela silhueta pouco atraente, ela viu névoa, ela viu o incerto. Estava certa de que ali ela não poderia mais ficar. Parar só faria aquele homem chegar mais rapidamente ao seu encontro. Ela sabia, lá dentro ela sabia que era perigoso. Era uma cilada que deveria ter imaginado antes. Ideia boba sair aquele hora da noite para um lugar como aquele. "Burra! Burra", enquanto repetia tais palavras desanimadoras, caminhava rapidamente.
     Parecia muito, mas não havia andando nem a metade do caminho para chegar à curva arrepiante. "Será que há outro ali?". Pensamento rápido como um relâmpago, relâmpago fraco demais para iluminar o caminho. Continuou. Ela sabia. Se ficasse não teria mais roupas, perderia a dignidade com lágrimas de súplica. Não havia nada para lhe ajudar, nem ninguém para socorrer. Já correndo ela alcançou a curva. Não parecia mais tão assustadora quando se via onde ela levava, à porta que lhe recusava segurança. Bastava o alívio que a porta oferecia, mesmo negligenciando seu propósito. Ela conhecia o que havia dentro, e aquilo acalmava.
      Dez passos além da curva e a curiosidade a traiu como fez a Orfeu. "Como ele pode estar ainda mais perto?". Agora a silhueta trazia detalhes. Cabelos grisalhos, olhos de desejo, um senhor que aparentava algo longe de bonzinho. Apressou o passo, ainda tinha esperanças. Talvez os outros carros indicassem a presença de outras pessoas ali. "E se não houver ninguém?". Seus braços finos e de pouca força não a ajudariam, na verdade, facilitariam o ataque dele. Suas pernas longas ajudavam na fuga, mas até quando poderia correr? Onde seria de fato seguro? Não parecia muito eficiente tal estratégia. Ele se aproximava mesmo com seus maiores esforços.
      Chegava à porta, os pensamentos a mil, as esperanças decrescendo a cada nova conclusão. Ele? Mais perto. Era ali, era ali que iriam sucumbir às suas fraquezas, ele e ela. Jogou-se conta a porta na ilusão de que abriria com bruta força. Havia um trinco, o qual não a trazia qualquer resultado. Sésamo nenhum lhe proveria segurança. Restou-lhe chorar e aceitar seu triste destino. Rezou, pediu aos sete Deuses que saísse viva pelo menos. Olhou para trás, não por curiosidade, não se arriscando, apenas aceitando.
      Ele se aproximava meio ofegante, não tanto quanto ela. Ela chorava mais e mais. Ele a alcançou em menos de 1 segundo e com o pouco de fôlego que lhe restava, disse algo. Algo que ela não escutou, pois seu choro era mais alto. Nem leitura labial era possível fazer, visto que estava cega com tanta água nos olhos. Só quando ele gritou, ela pode compreender:
      - Essas chaves são suas, senhora?


Monday, May 5, 2014

Dual

      Finalmente cheguei naquele momento da vida que todos já se encontraram, ou se encontrarão. Aquele momento que tudo que mais quer fazer é ferir todos os códigos de boa conduta já criados, para esboçar um sorriso. Quando falo "finalmente" parece que eu estava esperando ansiosamente por esse dia, mas não é bem assim que é para soar. Claro, toda adrenalina que esse momento envolve, alimenta minhas veias como a droga de um viciado. É aquela sensação que o Ministério da Saúde adverte que é prejudicial, mas mesmo assim você dá uma tragada nela todos os dias. Qualquer reação adversa que lhe aconteça, o único médico que você pode visitar é seu bom senso, infelizmente ele se ausenta com muita frequência.
      Eu sinto algo tão certo quando eu faço o errado só para desfrutar um pouquinho do teu néctar. Ah, bela flor, me machucaria com vinte mil espinhos se fosse necessário para te dar um cheiro. Todo perigo que adormecia nos meus antigos relacionamento, acorda bem disposto em você. O meu desejo dúbio quanto ao que quero de ti, cria bifurcações eternas em todas as teias dos meus pensamentos. Garantir sua exclusividade ou continuar nessa montanha russa de riscos e alívios?
      Apesar de sentir-me tão vivo com isso tudo, não posso afirmar que é uma coisa boa. Entenda, nem tudo que te faz feliz é fácil de lidar. Eu luto todo dia contra meus instintos para manter alguém que não me pertence por completo tão satisfeita. Você tem seus motivos e eu os meus. Você tem suas vontades e eu as minhas. Prezamos igualmente por liberdade, mesmo não tendo certeza se realmente entendemos esse termo. O que você diz me encanta, me movimenta. Eu acredito na suas palavras como na acuidade da matemática. Se somarmos dois com dois teremos quatro, mas será que se nos somarmos teremos apenas dois?
      Não é da sua verdade que duvido. É na minha mentira que acredito. Tantas vezes já tentei me convencer de que não é amor, portanto temo que agora a mentira dita mil vezes virou real. Não consigo visualizar três anos a frente sem a presença do teu perfume no meu travesseiro, mas também não consigo me comprometer com tal compromisso. Não posso te garantir muito, só o agora. Só o meu medo. Desculpa. Quero apenas que me aceite, e tem o feito. Mas como pode um querer tão certo te deixar tão incerto? Digo que tenho medo de te machucar, medo de embarcar nessa viagem e pular fora antes do destino final. É aí que surge toda piada dessa história. Lá no fundo eu sei, por fora eu finjo esconder. Eu tenho medo que me machuques, que me deixe sozinho navegando os sete mares. Meu orgulho inverte o meu medo e confunde meus sentimentos.
   

Thursday, March 6, 2014

Volta por cima

      Eram passos curtos de tão apertado. Andava com pressa, mesmo que não percorresse longas distâncias em pouco tempo. Não se pode desperdiçar o suor que não tem, nem escancarar o nervosismo insistente. Ela era tão carinhosa e sutil mesmo rejeitando todas as propostas. Compreender como tudo isso era possível, ele não conseguia. Uma rejeição tão doce e calma, enquanto ele estava banhado de gotas ansiosas.
      Em prol de tudo que havia sido vivido ele implorou, mas não disse nada. Pensou em todos os bons momentos, mas não disse nada. Engoliu suas vontades, já que não mudariam a decisão daquela mulher tão menina. Apenas fugiu. Virou as costas para o sonho distante. Com o coração apertando o peito, engoliu também o choro.
      Chegou em casa ofegante, mesmo sem ter feito esforço físico muito pesado, apenas forçou demais a mente. Cenas repassando em sua cabeça reavivavam a memória tão recente. Frases ecoando em seus ouvidos ainda que no silêncio de seu quarto. Ela era frígida, só podia, e o pobre coitado nunca percebeu. Forjou simpatia, paixão. Forjou amor. Tão falsa ela foi, tão falsa ela é. Será que não podia forjar apenas mais uma vez? Só para não destruir um sonho, só desmoronar uma construção. Ele tinha feito tudo sozinho. Não havia pedido ajuda para sonhar, planejar, criar. A única função dela era estar ali, e mesmo assim não o fez. Ele era egoísta por não tê-la incluído no planejamento. Será? Será que ela não deveria participar da construção de um futuro que a envolvia? Será que ela já não estava cansada de não ter escolha?
      - Já sei como vai ser.
      - Ah é? E como vai ser?
      Então ele explicava e nunca a deixava opinar. Ela o olhava e forçava um sorriso. Ao virar para o outro lado, caía uma lágrima.
      Tantas as vezes que isso aconteceu, tantas as vezes que ela implorou para participar. Tantas. Tantos os planos que ela não pode ajudar, tantos os planos que saíram do controle e tiraram ele da calma. E quem levava a culpa? Quem não ajuda a criar, é claro.
      Ela virou pro na arte de fingir e foi o suficiente para dar-lhe tempo de construir seu próprio sonho. O sonho que não o envolvia, o sonho em que ele não podia ajudar a planejar, o sonho em que ela seria a dona do seu futuro, ninguém mais. O sonho de dizer não para ele, de esquecer aquele amor tão sofrido. Ela demorou o tempo necessário, aguentou até o momento perfeito. Foi o dia que ficou para a história dela. Veja bem, "dela" e não "deles". O dia em que ela disse "não" depois de tantos "sim", depois de impacientes "pode ser". Foi o minuto em que toda falsidade sumiu, e o sorriso foi sincero. Foi o momento dela.

Friday, January 10, 2014

Resolução de um novo ano

      Primeiramente devo dizer que já exigi demais e fiz de menos. Deixei bem claro que não faria certas coisas por você, não por ser você, apenas não faria por ninguém. Fere minha personalidade sair por aí fazendo loucuras de amor, anunciando aos sete ventos o que sou ou deixo de ser com você. Não costumo dizer "eu te amo" em datas que não sejam comemorativas, afinal já são tantos dias do ano que o homem tem para expressar o que sente, para que mais?
      Bom, apesar de ter começado com palavras carrancudas como eu, venho por meio delas e das próximas trazer-te retificações.
      A gente já esticou a baladeira do nosso relacionamento ate demais, eu sei. Hoje reconheço seus esforços e percebo seus motivos. Você sempre me amou numa intensidade que em toda minha vida considerei impossível. O que viu em mim, até hoje não sei ao certo, apenas fico feliz que algo tenha te fisgado. Compreendo que agora não é o momento para você. Não tenho te proporcionado momentos bons, na verdade. Portanto estou escrevendo essas palavras de arrependimento. Pode ser tarde demais, mas é melhor do que deixa-las na omissão. Imagino que pode estar machucando ler o que está aqui, mas se chegou até esse ponto, por favor, não pare.
      Nem sei por onde começar todo esse turbilhão de coisas que quero dizer-te. Desculpa e obrigado. Acho que todo resto vai se basear nessas palavras.
      Desculpa por não ter ficado empolgado como você merecia quando conseguiu a promoção naquele emprego que tanto ama, ou ate mesmo quando conseguiu acertar fazer aquele bolo que tentava fazer a meses. Estava delicioso, meu amor. Obrigada por se esforçar tanto para fazer meus pratos favoritos. Nem sempre acerta, mas já fico feliz que tente. Afinal, é tentando que se chega a perfeição, não é? Não sei se o ditado é esse, mas o que vale é a intenção. Desculpa por não ter notado seu novo corte de cabelo, ou seu coração machucado. Obrigado por continuar me aceitando mesmo depois de tantos vacilos. Desculpe todos as noites que não abracei seu corpo com a força necessária para mostrar que nunca quero te deixar ir, porém também na medida perfeita para não te machucar. Obrigado por ter dormido tantas noites ao meu lado sem o calor do meu amor. Bom, queria que eu não tivesse que agradecer por isso, é um dos meus inúmeros vacilos e nunca mais quero te ver consertando minha displicência quanto ao nosso relacionamento. Não sozinha, quero consertar todos os danos contigo.
      Vou te agradecer todos os dias que passares ao meu lado se por ventura decidir me perdoar. Pedirei desculpas sem atrasos, e direi "obrigados" antecipados. Tudo isso pode parecer papo furado. Eu compreenderei se assim pensar, mas, por favor, se pelo menos dois centímetros do seu corpo tiverem vontade de voltar aqui, volta! Preciso te provar que não é da boca pra fora, meu amor. Se não tiver forças, eu te carrego comigo. Se tiver medos, afogo todos eles no fundo do mar. Se tiver dor, me deixa cuidar? Se tiver qualquer algo de ruim contigo, me deixa te dar coisas boas.
      Tenho plena consciência de que tudo isso pode não ter mudado sua decisão. Se for esse o caso, é só dizer, que eu mesmo trato de me mandar embora da tua vida. Mas se você tem duvidas, me deixa entrar novamente. Não fui o marido perfeito, nem serei. No entanto, farei de tudo para sempre tentar te fornecer a perfeição que mereces.
      Desculpa pelo que passou e obrigado pelo agora, ainda que esse agora dure apenas o tempo necessário para terminar de ler essa carta. Já seria mais do que o que eu mereço, mas não te disse todas essas coisas por merecer um recomeço, e sim por achar que você merece um recomeço.

      Obrigado e desculpa, meu amor..

Tuesday, December 17, 2013

4 min

      Essa música me arrepia da ponta dos dedos até o fio de cabelo mais comprido. Dá uma vontade incalculável de sentir tudo aquilo que ele sentiu quando afogou tais palavras nessa melodia. É uma mistura de dor, amor, anseio, carinho... Ah, são tantas coisas em apenas quatro minutos. Tanto pode acontecer em quatro minutos, venho pensando.
      Em quatro minutos duas pessoas podem cruzar seus caminhos várias vezes e não trocarem uma gentileza sequer. Em quatro minutos alguém pode zerar a conta bancária; pode ver um trailer e já odiar o filme; pode fazer um miojo e ainda vai ter um minuto de brinde. Acredite, em quatro minutos um carro pode ser montado, e eu, pobre coitada, perco mais de dez tentando abrir um frasco bem enroscado. Segundo o google, em quatro minutos alguém pode fazer um "geleia gostosa". Em quatro minutos, minha gente, duas pessoas podem se apaixonar; vários beijos podem ser dados. Em quatro minutos pode ser dado o abraço mais demorado da vida de alguém, o mais intenso, ao mesmo tempo o mais rápido. Em quatro minutos e mais alguns segundos eu posso ouvir essa canção e me apaixonar pela ideia de me apaixonar. Em quatro minutos...
      Pergunto-me se as pessoas já se perguntaram o que fariam se tivessem apenas quatro minutos. Quatro minutos para dizerem o que sentem, para defender uma ideia. Duzentos e quarenta segundos, isso mesmo, duzentos e quarenta segundos para se despedir de alguém. Duzentos e quarenta segundos para dizer tudo que quer dizer com o silêncio de um toque. Duzentos e quarenta segundos ao lado de alguém insuportável; achando que vai morrer afogado; aguardando no pronto socorro. Duzentos... e... quarenta... segundos... de pura agonia.
      Em quatro minutos, o que fazes? Toma um banho, escova os dentes, assiste quatro propagandas, pula quarenta e oito delas no youtube? Na verdade, não importa como cada um usa seus quatro, oito, doze, quatrocentos minutos. O importante mesmo é não desperdiçar. A cada quatro minutos, quatro minutos de vida são perdidos, ou ganhos? Só depende de você, não é? Parece aquela história do copo meio cheio ou meio vazio. Pessimista ou otimista, feliz ou triste, atrasado ou pontual, sempre pode nos restar apenas mais quatro minutos.
      Duzentos e quarenta mil milissegundos podem demorar tanto tempo, enquanto quatro minutos podem passar voando. Em duzentos e quarenta segundos meu tempo voou e se arrastou ao mesmo tempo. Escrevi umas dúzias de palavras, umas centenas de repetições. Em apenas quatro minutos, senti tanta vontade de sentir o que há tempos não sinto, recapitulei muito do que já aconteceu. Fechei os olhos e passei alguns anos assim, enquanto meu corpo relaxava por quatro minutos. Foi tanto pouco tempo.
      Foram quatro minutos, enfim, apenas...

Monday, December 9, 2013

Vaivém

      Lascou-me um beijo surpresa na bochecha e fugiu, mas não sem antes olhar para trás, não sem antes me deixar com aquele desconforto nas calças. Eu que não sei ao certo o que causa todo esse transtorno, se é aquele olhar que me come ou aquela boca que me cerca, apenas sei que fico bem fora da minha zona de conforto quando ela emana seu perfume nas minhas proximidades. Mulher menina que me conquista com uma risada e dois tapas; rouba o fio de dignidade que me resta e ainda joga a culpa para cima de mim.
      Eu fui atrás, não me controlei. Sempre perco o controle, não importa em que canal esteja, contanto que ela apareça. Deixa-me uma fera desgovernada, sedenta pelo gosto de seus lábios. Seja em cima, seja em baixo, o sabor da sua confusão me traz um breve momento de quietude. Um breve instante, é tudo que sempre peço, tudo que sempre tenho. Ela anda apressada como se o tempo corresse e não a esperasse. Cada minuto que me presenteia, faz de mim alguém mais, mais... sedento, ainda mais. Debruça seus anseios em meu ser e me deixa de resto mais desejo.
      Quando alcancei, não deixei barato. Ela provoca, eu rebato. Sem medo de gritar, ela se entrega, e eu ganho. A cada encontro fico mais rico, não de dinheiro, é claro. Fico mais completo, e incompleto quando ela não está. Cada pedaço que me falta, ela preenche. Cada alegria, ela me vende. É um jogo contraditório, em que cada vez que pago, mas eu tenho. Rico de satisfação.
      Ela sorriu, porque já sabia. Ela se deixou ser alcançada, como sempre. Sabe bem o que quer e me usa como peão, ou seria escravo? Tanto faz, não importa. Sou parte da jogada e já me é o suficiente. Ela faz com que minha mente caótica faça sentido por quinze, vinte minutos. Apenas para ao fim do tempo, ao soar da sirene, ao suar os corpos, ela instalar um caos maior ainda. Agradeço por toda consideração, toda confusão. Parece ruim, mas não é. Ou é, e eu não sei.
     Agarrei para não mais soltar, do modo como sempre faço. Uma pena que a pele quente dela seja tão escorregadia. Por mais que eu tente, ela sempre dá um jeito de escapulir por entre meus dedos. Derramando-se feito água sobre meu corpo e logo escorrendo pelo ralo. Por mais que eu tente, não consigo segurar aquele espírito livre, aquela ousadia a cada passo, aquela maravilha de se olhar. Dói, mas eu gosto de me perder ali naquele corpo.
      Ela gostou, se aproveitou e, mais uma vez, se foi. Deixou meus trapos no chão, minhas inseguranças também. Juntei os trapos e algumas inseguranças, e fui também. Segui meu caminho, como ela segue o dela. Surtando até o dia de cruzar com ela de novo, e perder mais inseguranças, dignidade, medo. Ela me molha ao mesmo tempo que me seca. Ela é aquela coisa inusitada que acontece com os pobres felizardos. Ganhei na loteria, no entanto o prêmio vem em parcela e deixa dívidas. Sou um pobre feliz.

Sunday, November 17, 2013

Lá e cá

      - Tá vendo aquele casal?
      - Qual?
      - A menina de blusa branca e o cara com a blusa vermelha. Ali. Perto do banheiro.
      - O que tem eles?
      - Ele parece estar louco por ela, mas ela parece tão...
      - Insegura?
      - Não.
      - Desinteressada?
      - Não é bem isso.
      - O que é, então?
      - Perdida, eu acho.
      - Perdida? Como assim?
      - Ele procura os olhos dela, ela encontra os dele, mas ela não parece estar ali.
      - É como se ela olhasse para dentro dela enquanto ele faz o mesmo, não é?
      - Mas... ela está apaixonada por ele.
      - Como você sabe disso? Não parece.
      E então ela calou. Perdeu seu olhar por um momento para tentar não dar dicas do que sentia por ele.
      - Diz. Como você sabe disso?
      - Eu apenas sei - resposta brilhante, não é?
      - Qual é? Eu sei que você tem provas para provar o fato, senhorita detetive.
      A respiração descompassada quase não permitiu que ela respirasse fundo e procurasse pelas palavras para comprovar sua hipótese.
      - Viu como ela fecha os olhos quando ele beija a bochecha dela?
      - Estou, mas isso não quer dizer muita coisa. Pode ser um reflexo.
      - Não. Você não prestou atenção. Ela exprime um leve sorriso quando ele a beija. Num é só um reflexo. Sabe quando você fecha os olhos para sentir melhor o cheiro de alguma coisa? Para ouvir melhor um sussurro?
       - Até que sei.
       - É justamente isso. Aquele beijo é o que ela que sentir melhor, guardar com ela.
       - E por que você disse que ela está "perdida"? - fez as aspas flutuantes com os dedos.
       Ele é tudo que ela queria, mas é tão bobinho. Isso fazia com que ela quisesse ainda mais.
       - Você é meio tapado mesmo - riu, riu para quebrar aquele clima tenso dentro dela. Riu para descontrair.
       E ele riu de volta, quase como quem confirma o que acabou de ser dito.
       - Algo a preocupa.
       - Tipo o que?
       - Ah, sei lá. Sou nem ela ou ele para saber o que se passa.
       - Desculpa aí! Achei que você teria todas as respostas.
       - Sou nem vidente - e era isso que a conquistava. As piadas, as descontrações até nos momentos de seriedade.
       - Achei que fosse! - ele brincou - Mas, sim, isso num quer dizer que ela está apaixonada por ele. Por que parecer tão distante se ela gosta tanto dele?
       - Vai ver ela tem algo para esconder - dessa vez falou baixinho. Porque ela tinha algo para esconder.
       - Oi? O que você disse?
       - Ela deve ter algo para esconder - o olhar dela encontrou o dele.
       - Algo bom ou algo ruim? - ele olhava para ela sem medo de se esconder.
       - Ah, depende do seu ponto de vista, né? - ela queria ser capaz de fugir, mas tinha tanto para ver naqueles olhos tão permissivos.
       - No ponto de vista dele.
       - Acho que não é bom - já não sabia mais de quem estavam falando.
       - E por que você acha isso, ein? - as mãos dele corriam de maneira nervosa pelos fios de cabelo.
       - Porque... - não sabia ao certo o que tinha que responder - se quando ele a beija, - conseguiu desviar o olhar - ela fecha os olhos para guardar o momento em sua mente, - olhou para o casal em questão - mas quando eles se olham, ela não consegue ser aberta como ele...
       - É porque ela tem medo - interrompeu sem pestanejar.
       - Não necessariamente - mais um vez foi fisgada pela confusão daquela conversa tão ambígua - ela pode apenas estar com problemas pessoais.
       - Mas se ela gosta tanto dele, confia tanto nele... ele saberia, não é? - seu olhar ainda fixo nela, procurando os olhos dela.
       - É, suponho que sim - e ela cansou de fugir.
       - Você está com problemas pessoais? - ele indagou com um sorriso desafiador nos lábios.
       - Não, mas o que isso tem a ver? - e ela apenas fingiu não entender por puro medo.
       Ele riu:
       - Posso beijar tua bochecha?

Monday, October 28, 2013

Marionetes

      Nas manhãs ela usava aquele sorriso capaz de incendiar qualquer coração, forjava sua felicidade sem que ninguém desconfiasse, mas bastava alguns minutos sozinha para sua expressão modificar. Bem que ela queria viver no faz de conta que havia criado para convencer os outros de que não precisava de ajuda, no entanto fugir não é tão fácil quanto enganar. Poderia ser uma eterna forasteira dos seus sentimentos, mas prefere ser sincera consigo mesma.
      Todos nós passamos por momentos ruins, era apenas uma fase, ela sabia. Logo a época das vacas gordas iria assolar sua vida de momentos melhores que memórias distantes. Muito esforço era usado para entender como tudo foi ficar tão complicado. Nada lhe fugia do controle, não entendia como daquela vez poderia ser tão diferente. Tantos corações manipulados da forma que ela desejava, fazia o que bem entendia para satisfazer seus desejos. Tinha o domínio da situação na palma de sua mão, palavras convincentes na ponta da língua. Sempre se deu muito bem com marionetes, não era diferente com as pessoas. Cada fraqueza era uma cordinha, sua habilidade permitia controlar os movimentos e prever qualquer desvio.
      O plano infalível não contava com falhas provenientes da fonte de criação. Ela não contava com o vazio que aquilo poderia deixar em seu ser. Queria acreditar mais em histórias fantasiosas para colocar a culpa em magia, pelo menos poderia dizer que algum coração que dilacerou lhe jogou um praga, lhe deu um coração. Não era isso, ela sabia também. A latência de seus sentimento a abandonou e deixou tudo tão escancarado. A vontade de não apenas se sentir desejada, mas também amada. Sua imunidade a romantismos já havia durado muito e, então, ela adoeceu.
      O que lhe causava repudio, agora provocava tanta inveja. Casais apaixonados, olhares cruzados, gargalhadas compartilhadas. De nada lha adiantava um sorriso incendiário se não lhe fosse real, se não aquecesse o coração que lhe enlouquecia. Ela precisava preencher o vazio para que seus momentos solitários trouxessem sonhos, não flashbacks; precisava sair do controle; ser um pouco manipulada; precisava perder o medo. Ela sabia toda a teoria para cessar a dor, só não conseguia encontrar alguém para colocar em prática. Pobre garota, pensava que até para perder o controle, poderia planejar.

Sunday, October 20, 2013

Do amor ao ódio, do ódio ao amor

      Como um flash, tudo aquilo passou pela minha cabeça. Um beijo roubado enquanto ninguém olhava, o fôlego tirado enquanto beijava. As risadas despretensiosas que quebravam o silêncio da madrugada. Os olhares que podíamos ver sem nem mesmo olhar. Tudo que escondemos dos outros e até mesmo de nós. Era tudo tão maravilhoso nos nossos esconderijos favoritos, e agora só me restam alguns goles do passado.
      Mesmo com tudo que foi vivido, parece que eu não fiz o suficiente para te manter aqui. Ela tem algo que me falta e prefiro nem saber o que é. Algo que te traz tanta dor, e ainda assim te prende com tanta força. Algo que te faz trocar risadas por lágrimas, abraços por tapas. Pode me chamar de boba ou idiota, mas prefiro sofrer a dor de não te ter a sentir essa felicidade egoísta de te manter na tortura. Só me restam alguns goles neste copo.
       Sinceramente, senti raiva, não posso mentir. Ninguém gosta de ter seu filme favorito interrompido nas melhores cenas. De alguma forma doentia consigo entender sua decisão. Apenas não sei o que fazer com essa carência, essa saudade. Os goles já não me deixam mais pensar com sanidade e começo a considerar opções absurdas, soluções paliativas. Vou te ligar agora, três da manhã, com sorte ela estará com você. Sua caixa postal vai apenas me dizer que você é algo que não posso ter. Assim vai ser mais fácil, vou poder cair na real, vou poder desistir de tudo isso, por essa noite pelo menos.
      Infelizmente não te liguei e ainda consegui mais uns goles do passado, do álcool, da dor, da vontade. A coragem de fazer besteira só aumenta e a sanidade diminui. Em meia hora fui capaz de sair do limbo para a loucura completa. Nada mais me move além do desejo de te ter aqui. Felizmente ainda tenho seu número na minha agenda telefônica, com sorte você vai atender, pois ela não vai estar com você. Nada de caixa postal, nenhum bipe, apenas a voz que me tira do sério. Esboçar um sorriso não tinha sido tão fácil nesses últimos dias como está sendo agora. De alguma forma os goles me deram palavras. Eu consegui assumir, sentir, falar tudo que tinha escondido de mim, de você. Minha índole não me permite fazer esse tipo de coisa, ainda bem que ela não existe depois de alguns copos de cerveja, vodka, tequila. Não consegui pedir nada, nem exigir, apenas falei tudo que me vinha a mente, todas as cenas daquele filme que vivemos. Foram os goles extras.
      Finalmente, eu deixei você falar mais que "alô", foi aí que eu me tornei teu pecado. Seus passos se encontraram com os meus e por aquele momento não me importava com ela, com vocês. Só existiam nós que nos prendiam, nos atavam, e eu não ia deixar soltar. Daqui em diante meus goles serão compartilhados, ligações serão apenas de saudade isenta de desespero, e as lembranças serão cenas repetidas do filme que vou poder assistir sempre que der vontade.

Wednesday, September 4, 2013

Apelo

      Ultimamente tem sido difícil dormir sem lembrar da sua voz cantarolando o amor que me faltava, é a canção de ninar mais doce, suave e eficaz que já conheci. Por que não te vejo mais? Queria ter em meus braços sua transparência novamente. Fico me perguntando, morena, quando você ficou tão difícil de se ler, quando comprou tantos cadeados para trancafiar seus pensamentos. Até me pergunto se o certo, na verdade, seria perguntar a razão e não o momento.
      Seus olhos, ah, seus olhos hipnotizavam como um relógio incansável de ponteiros parados. O que aconteceu com eles? Tão perdidos no tempo, procurando desesperadamente parecerem cansados para criar uma desculpa. Não se engane, morena, as pessoas percebem, as pessoas sabem. Você não está bem, o que lhe falta? O que lhe excede? Por que não extravasar e catar os pedaços para recomeçar? Vamos lá, eu te ajudo, nem precisa explicar nada, só me devolve o brilho no olhar, por favor.
      Acho que você se esqueceu de tudo que já me disse, de o quanto abomina seu passado insensível. Desgruda do que não te satisfaz e volta pro que te faz feliz. Sabe tão bem a fuga perfeita e continua deixando a opacidade te prender. Para de burrice, para de se afundar, você sabe nadar, eu sei que sabe. O que quer que esteja te puxando para baixo não tem boas intenções. Libera o que te puxa para as profundezas e ancora no raso.
      Volta, morena. Estou esquecendo o som da tua voz e já não consigo mais dormir. Não me faz ter que forçar minha memória, canta no pé do meu ouvido para aquecer meu corpo que deixou tão frio. Quem te fez isso, morena?  Eu vou espancar, prometo. Se for eu o culpado, não se preocupe, já será punição exacerbada não pertencer ao teu sorriso. Pode me privar de sua hipnose, se quiser, mas não priva o mundo, por favor. Deixa que das minhas olheiras, eu cuido, mas você tem que se cuidar também. Promete, morena. Tranquiliza minha insônia, pelo menos. Assegura-me que voltará a ser límpida como água, radiante como a maior das estrelas. Vai, meu sol, amanhece minhas noites intermináveis, mesmo que apenas aqueça outros planetas. Canta, morena, canta.

Thursday, July 11, 2013

Quem sabe um futuro salvará

      Será que as pessoas percebem quando se perdem? Não falo de se perder no meio de uma cidade, falo de perder a essência, o amor próprio, a alma. Tenho a impressão que, se perceberem, demoram muito, ou mais. A tristeza vai assolando devagarinho e a alegria cheia de falsidade faz aparições esporádicas para te enganar. Não importa o que digam, você vai afirmar que está bem, porque, afinal, é assim que você acha que está.
      Bobagem. Quem se importa se eu fico me enganando? Enquanto eu distribuir sorrisos por aí, tudo estará perfeito. Será que ao menos você percebe o que eu não percebo? Será que você fica me maltratando desse jeito de propósito? Esse seu olhar misterioso foi o que me chamou atenção, foi o que me conquistou. Hoje, no entanto, ele não passa de um estresse, um medo que eu tenho dela apaixonar outras garotas, um ciúme que me pega e não quer soltar. Ciúme das garotas que olham para trás só para poder te ver mais uma vez quando passam, ciúme do seu sorriso quando percebe. Será que eu sou a otária da história? Não, besteira da minha cabeça, você disse que me ama.
      E se não deu certo, mas você não seguiu em frente mesmo achando que já está quilômetros à frente daquele passado? A pessoa tem que perceber em algum momento que ficou perdida lá atrás. Ela tem que se encontrar e voltar onde se deixou. Ela tem que fazer isso! Se não o fizer...
      Eu tenho certeza que você fez mais do que olhar para aquela garota. O que ela tem que eu não tenho? Você disse que éramos perfeitos um para o outro, e agora isso? Agora eu tenho que aturar sua maldade que eu achei que era só faixada. Vontade de correr, de fugir, mas você vai me seguir, não vai?
      Quando a pessoa volta atrás, ela consegue achar o que procurava? Ela consegue se achar? E se não conseguir, como lidar com a frustração? Não seria melhor continuar perdida e vazia? A verdade maldita é que não se pode colocar duas coisas na balança se você só conhece uma delas.
      Cilada, foi nisso que me meti. Deveria saber quando te conheci. Na verdade, eu acho que sabia, mas a aventura era adrenalina e serotonina, mistura perfeita para fazer besteira e ainda achar a coisa mais certa do mundo. Satisfação momentânea não mantém felicidade. Talvez eu tenha percebido isso tarde demais, não é?
      Dois diferentes tipos de erros: fugir do passado e se aventurar em um presente. Afinal de contas, o que é mais seguro? Idealizar um futuro? Cansada de você e dos seus fantasmas que começaram a me perseguir desde aquele maldito dia em que te conheci, logo eu que não acredito em espíritos.

Monday, April 29, 2013

Toalete

      Enquanto o resto mexia o corpo ao som da música, eles faziam ao som da vontade. Em um banheiro aparentemente limpo, mas com tanta sujeira e perversão. A química que demorou tanto a surgir, consolidou tão rapidamente que nada além da satisfação podia pará-los.
      As mãos dele dançando com uma suavidade feroz embaixo da saia vermelha dela, enquanto aquelas unhas bem pintadas quase cravando nas costas dele. Depois de muitos joguinhos difíceis, vieram os fáceis e o olhar alcoolizado foi o estopim. Os dois vencedores estavam apenas procurando o tão merecido prêmio.
      Pernas enfraquecidas pelo desejo, boca acalentada pela vontade. O vermelho dele nela. Inibições se despedaçando pelo chão. Ninguém poderia ouví-los, e segurar todos aqueles gemidos suprimidos davam uma sensação gostosa de explosão iminente. Ele gostava de provocar, ela de machucar. Ele estava se apaixonando, ela se enganando. Estavam certos de tão errados e isso fazia daquilo algo tão isento de arrependimentos. Nada seria esquecido, cada toque ainda iria ser sentido mesmo dois anos depois. Nenhuma gota de álcool seria capaz de apagar qualquer pequeno detalhe daquela madrugada incessante.
     As sensações se intensificavam a cada segundo. Quando acharam que não podia ficar melhor, explodiu. Tudo que estava sendo guardado para manter aquele segredinho foi libertado. Respiração ofegante, olhares mais uma vez encontrando-se, dessa vez pareciam ainda mais bêbados, mesmo sem beberem qualquer gota extra de vodka. Ela saiu primeiro ainda cambaleando. Ele saiu atrás, tropeçando no próprio pé, quase caindo aos pés dela no sentido mais literal da palavra.
      Cada um para um lado, olhares agora distantes, ansiosos, loucos por mais um pouco. Ceder mais uma vez aos braços fortes dele seria humilhação, se debruçar sobre aquelas curvas novamente seria fraqueza. Eles precisavam de mais um jogo, um novo desafio. Iriam provocar até não aguentarem mais, e quando isso acontecesse, provocariam um ao outro diretamente. Quem cedesse perderia. No entanto, eles sabiam a verdade, não havia perdedores naquela brincadeira.

Sunday, March 10, 2013

Esperar para ver

      Pode se orgulhar de mim, eu não chorei. Tudo bem que me segurei um pouco, respirei fundo, mas o que importa é que nem um pingo de água brotou em meus olhos. Penso que eu esteja aprendendo a substituir essa vontade por raiva, coisa que não gosto. No entanto, estou cansada de chorar, cansada de me abrir tão facilmente assim. Odeio ter raiva, principalmente de pessoas. Não tenho muita escolha, infelizmente. Choro ou raiva são as duas únicas reações que vejo para tal situação. Sinto muito.
      Às vezes não sei ao certo quem é o culpado história, mesmo assim a história me machuca. Muitas vezes um simples pedido de desculpa não resolve, porém o que mais pode ser feito? Não muito. Queria que essas coisas simplesmente não acontecessem, ou pelo menos não com tanta frequência. Minha intenção aqui não é a de apontar erros, é de apontar mudanças. Sinto que estou mudando e não tenho certeza de quão drástica seja essa mudança. Nem sei se quero descobrir, eu sou medrosa, você sabe.
       Talvez eu apenas esteja ganhando um pouco mais de tolerância e paciência. Acho que finalmente aprendi a jogar seu jogo, só estou incerta dos resultados. Vou esperar para descobrir se estou sendo uma boa jogadora ou se me enganei e acabei cavando minha própria cova. Só espero que as coisas se resolvam e não se repitam. Coisa que venho esperando há muito tempo. É até cômico como a esperança tem se mostrado invencível mesmo.
      Bom, depois disso dito, tenha um bom momento de reflexão em cima do que suas atitudes causam em mim. Talvez dessa vez perceba o que vejo com clareza, talvez não. Talvez nem sequer reflita sobre, por isso não haverá mudanças de sua parte. Talvez hoje, amanhã, nunca. Talvez por demais.

Tuesday, February 26, 2013

Necessidade

      O tempo que faz da gente o que somos no presente e deixaremos de ser quando isso for passado. As coisas que ele deixa passar despercebidas, as coisas que ele nos dá, as coisas que ele nos tira, um dia cada uma delas virá ao pensamento. Algumas são recordadas apenas uma vez, outras insistem na mente. O que sempre me perseguiu foi a saudade. Houve um tempo que morria por sentir falta de pessoas que costumavam viver ao meu lado, mas tinham feito a besteira de irem morar longe. Senti falta dos bens materiais que haviam sumido, quebrado, seja lá o que fosse. Às vezes eu sou materialista, sim! Vou mentir para que?
      Hoje eu sinto saudade de algo que ontem era minha única sustentação, minha única base de apoio. O tempo me tirou o tempo de ter amizades como eu gostaria que tivesse. Queria ter aquela amizade que te deixa acordado a noite toda morrendo de gargalhar apenas com uma conversa boba pela internet, também gosto da ideia daquela amizade que nasceu para nunca mais morrer, aquela que mesmo distante ainda permanece forte. Imagina um velhinho contando as aventuras que teve com seu amigo da juventude para seus netos? Amigo que pode ter se distanciado ou continuar por perto, não importa. Amigo que marca. Quero isso. Queria aquele grupo de amizade que faz o bullying interno e não há ressentimentos. Morro de inveja daquelas pessoas que têm amigos que enchem o quarto do outro com fotos e objetos do artista mais odiado da pessoa apenas para pregar uma peça no amigo. Apenas para travar uma guerra divertida e sem fim. Quero aqueles amigos que te enviam fotos engraçadas simplesmente para te divertir, ou porque aquilo, mesmo não sendo engraçado, já foi alvo de piada. Quero aquele amigo que te liga desesperado pedindo ajuda para comprar o presente da namorada, ou aquela amiga que está sempre enrolada com alguém e vive te enlouquecendo com as neuras dela. Estou com vontade de ter amizade forte e eterna. Vontade de ter um amigo que grite comigo de raiva, cuide de mim quando eu estiver doente, faça maravilhosos elogios quando o espelho me mostrar coisas ruins. Amigo para todas as horas, amiga bem-humorada, amigo que vive mandando SMS, amiga que me acorda no meio da noite para pedir conselho, ou até mesmo para me dizer que a festa está bombando e eu estou perdendo.
      Sinto saudade de amigos, de ser insubstituível na vida de alguém. Sinto saudades de ser o desempate na dúvida de alguém, ser aquele ombro amigo que nunca falha, ser a fonte de sabedoria mais confiável para todo e qualquer conselho. Gosto da palavra amizade, ela engloba tantas outras, o que a torna ainda melhor. Olha que maravilhoso, em uma palavra você poder dizer tanto de alguém: "ele é meu amigo". Não é maravilhosa a primeira vez que você escuta alguém dizer isso de você? "Caramba! Eu significo tanto para essa pessoa?". Foi uma palavra que fez você sentir ter pelo menos um pingo de importância na vida daquela pessoa.
      Amigos, amigas, amizade... Saudade.

Friday, February 15, 2013

Sua turbidez

      - Quero poder te ler com a palma da minha mão. Olhar nos teus olhos e ver teus pensamentos, dos mais serenos aos mais obscenos. Beijar teus lábios de inverno e sentir o calor de julho. Sei que sua frigidez é só fachada, meu amor. Mas, por favor, para de tentar se enganar. Eu vi quando sorriu na hora em que falei que seu cabelo bagunçado é a visão mais fofa que já tive. Ouvi seus gritos internos quando seu pai faleceu. Pode dizer que ele era um velho resmungão, nada vai apagar o amor e carinho que você sente por ele. Eu sei que não! - a voz trêmula juntou-se às lágrimas que já ameaçavam pular fora - Eu... - suspiro - Desculpe.
     Deu as costas para a coragem. Todo seu plano arquitetado não passava de um edifício mal construído que em poucos segundos sumiu em cinzas. Estava desistindo por não ter forças para continuar falando tudo que estava engasgado há tanto tempo. Ele estava alucinado por aquela garota e isso o levava à loucura. Não sabia ao certo se o sentimento em si lhe fazia digno de se internar em um hospício, ou se as reações dela ao sentimento dele eram a causa. O que mais importava era que falar não parecia mais funcionar. Nunca havia funcionado com ela. Teimosa e amante dos fingimentos. Não era falsa ou mentirosa como uma uma vilã de novela, a não ser que ela se chamasse Novela, aí sim. Ele entendia que ela já havia sofrido demais ao longo da curta vida que ela viveu, mas não entendia como ela podia sabotar as realidades com medo das falhas futuras. Ela dizia:
      - É a obsolescência programada.
      Essas palavras emputeciam os nervos calmos dele. Ela jogava a culpa na vida e nas pessoas que a rodeavam, porém estava mais do que óbvio que o responsável por essa programação era ela.
      Pensando em tudo isso e mais um pouco, os pés dele seguiram um comando oposto ao previamente enviado. Meia-volta pouco antes de chegar ao trinco da porta, agora em direção ao quarto em que a teimosia estava. Cabisbaixa, foi assim que ele a encontrou e isso funcionou como um impulso para reconstruir o edifício, dessa vez com outras proporções e propósitos. Dessa vez era uma fortaleza que ele iria ser. Seus passos ainda silenciosos, não despertaram a atenção dela. A voz, agora impossível de calar, assustou a teimosia. Os lábios desenhando palavras nunca ditas antes, tão convincentes, tão claras, tão tocantes. Talvez elas até estivessem se repetindo, mas um edifício mal construído é diferente de uma fortaleza pronta para o contra-ataque. A realização foi tamanha que não surgiu uma faísca de ataque da inimiga amiga. O susto inicial não se manteve, o que a enfeitiçou nas palavras foi a confiança. Foi a certeza do que estava sendo dito sem lágrimas, apenas com dor e conhecimento. A dureza das palavras derreteu todas as barreiras da fortaleza dela, a qual ele imaginava que existia, mas não sabia que bastava se igualar para derrubar.
      Naquela tarde que virou noite não houve sabotagem de nenhuma das partes. Naquela noite que virou dia não houve arrependimento. Naquele dia que virou o resto da vida deles nada mais foi escondido ou temido.

Saturday, February 9, 2013

É isso..

     Um dia eu ainda vou fazer exatamente o que desejo. Vou parar com essa besteira de tentar agradar as pessoas; vou ver se tomo uma dose de confiança para sair por aí e ser irresponsável. Vou falar palavrão alto para ser ouvida, cansei de sussurrar minha raiva para não constranger as pessoas. Vou ser má, brincar de confundir o coração das pessoas, brincar de amarelinha ao contrário para ir do céu ao inferno. Se não tiver o inferno, eu desenho. Ainda coloco minha cara com uns chifres.
      Quer saber de uma coisa? Hoje eu vou treinar. Quando um filho da puta for indelicado comigo, responderei com o triplo de brutalidade. A índole perfeita cansa e nem agrada tanto quanto deveria. As pessoas esperam que você erre, mesmo que as machuque. Eu descobri a razão disso tudo. Perdoar aumenta a intimidade. Por que? Eu ainda não sei ao certo. Penso que se uma pessoa decide te perdoar é porquê ela deposita confiança em você. Confiança é como um filho. Você entrega receoso pra uma pessoa, mas fica feliz quando se dão bem. É um caminho perigoso e tortuoso, porém quanto mais o tempo passa e menos você vacila, mais tranquilo e fácil ele fica. No entanto, basta um pedra no meio do caminho, sendo o tamanho dela variável de pessoa para pessoa, que o caminho volta a parecer uma floresta num filme de terror. Pode até deixar de existir, não se sabe ao certo.
      Vou fazer com que todos os caminhos virem obstáculos, pelo menos assim terei desafios nessa vida. Até que é desafiador agradar a todos ao mesmo tempo, só que isso não me surpreende mais. Eu quero novidade. Quero me apaixonar por alguém que vai me pisar e quero ter uns vinte para pisar em cima com gosto. Vou trocar umas amizades insossas por umas picantes e mais bem temperadas. Vou beber até cair, pois essa noite alguém vai segurar meu cabelo. Vou fazer com que todo mundo seja eu para mim.

Wednesday, February 6, 2013

Frente a frente

      "Eu já deveria estar em casa."
      Todos dançavam ao som da bebida. Beijos desconhecidos, sorrisos sem motivo, abraços por engano. O perigo morava no conhecido. Dentre todas aquelas pessoas insanas que a rodeavam, apenas uma bastava para confundir sua cabeça mais que todos aqueles copos que havia segurado.
      "Eu não deveria estar aqui."
      Comprometida, atarefada, cansada. Ainda assim ela resistiu àquelas três horas em pé naquele estabelecimento. Por que? Uma resposta simples para um pergunta tão complicada. Resposta que ela não tinha na ponta da língua por teimosia.
      - Ei, menina! Acorda pra vida.
      Parecia que alguém havia estalado os dedos depois de uma sessão de terapia. Olhou o mundo e sem mais nem menos os olhos arregalaram. Surpresa, estática, sem reação. O conhecido.
      "Ah não, eu realmente deveria estar em casa."
      Como Murphy sempre faz o que sabe fazer melhor, as cenas seguintes conspiraram para que o desfecho calmo e sem nuances novelescos ficasse de lado.
      Tem-se como ambiente uma festa como outra qualquer. Pessoas bebendo para se perder, outras para se encontrar, e, algumas como ela, para esquecer. A improbabilidade da estratégia funcionar era maior que o teor de álcool em seu absinto. De mãos juntas ela rezava para que ele não desse as caras, de braços abertos ela se disporia caso a reza não funcionasse. Mas como proceder? Alguém em casa depositando a confiança em seu amor, e outro alguém que pisou seus sentimentos. O que escolher? Agradável, satisfatório, divertido ou maravilhoso, fervoroso, explosão de risadas; aproveitar investimentos no futuro ou abrir vaga para o passado se repetir?
      Esqueceu de si, lembrou para onde precisava ir, resolveu esquecer o que lhe esperava, esperou pelo que a esqueceu. Ela dizia que não, mas ela gostava desse joguinho do faz merda ou não faz. A corda bamba mantinha a vida dela mais desafiadora. Por isso ela ficou. Por isso ela não dormiu em pé, ou sentou. Por conta dos desafios ela se amedrontou, porém não desistiu.
      Os olhos dele encontraram o olhar turvo dela. Afinal, quem procura acha. E, para falar a verdade, ele sempre fez questão de mantê-la no radar. Por razões óbvias, mas que ele não conseguia explicar. Ela despertava um fogo incessante nele, incontrolável. Fogo daquele tipo que se alastra com facilidade. Sentia da ponta do dedo mindinho do pé esquerdo até sua grande testa faíscas remanescentes de outros encontros visuais, as quais não precisam de mais do que um pensamento para existir. Não foi em pensamento. Frente a frente o incêndio é generalizado e, se não é apagado rapidamente, há escoriações sérias.
      Infelizmente eles haviam optado pelos machucados. Feriam-se no orgulho, na pele, no sentimento, mas não cediam às vontades hormonais. Situação que ela vinha aguentando há um tempo, mas não ficaria assim por muito.
      Vinte minutos naquele magnetismo isolante e mais nenhum pensamento que a fizesse lembrar de casa, cansaço, amor. Nada lhe passava pela cabeça, em compensação todas a sensações lhe tomavam o corpo. Boas e ruins. Vontade que queimava, rasgava, gritava. Já se considerava masoquista depois de tanto tempo segurando-se com força. Os dois sabiam, os dois fingiam, os dois queriam.
      Um canto escuro, um desejo obscuro. Um toque para desencadear milhões. Eles precisavam, já não eram mais tão fortes. Precisavam beber da fonte proibida para recuperar forças para resistir mais uma vez. Quem disse que eles não tentaram se manter fiéis às próprias promessas? Meio ano evitando os mesmos corredores, os mesmos elevadores. Seis meses construindo essa fortaleza resistente e impenetrável, para em uma noite descobrir que a construção precisava de mais qualidade.

Monday, January 28, 2013

Cai na real

      Preciso de uma coletânea nova de músicas. Cansei de ouvir amores platônicos e me encontrar presa nas letras, por uma vez acho que mereço algo diferente disso. A ilusão me persegue desde o dia que nasci e não consigo ver previsão de liberdade. Minha mente fantasia demais com situações que nunca irão acontecer e a fraqueza dos meus pensamentos facilita meu sofrimento. Meu foco já se perdeu há muito tempo, deve ter ido viajar pelo mundo com meu bom senso.
      Eu estou pronta para mudar, ser uma mulher melhor, uma menina mulher, por mais clichê que isso possa soar. Tenho sugerido isso a minha mente por saber que ela não vai amadurecer na velocidade que eu quero, então estou ofertando uma transição. Nada melhor que uma transição para não chocar a sociedade e não despertar conhecimento de que algo está mudado. Engraçado, não é? Eu estou tentando fugir da ilusão iludindo minha mente. A chave das algemas estava na minha frente o tempo todo e eu nem para perceber, talvez isso já seja um sinal de amadurecimento. Talvez seja uma falsa ideia de que as coisas podem mudar.
      Tenho medo. Conheço pessoas maduras e elas não me parecem muito felizes. Uma delas já me disse "eu amadureci por não ter escolha. É um processo sem fim e você nunca mais vê a vida da mesma maneira". De que maneira vou ver minha vida? O que meus olhos vão me mostrar quando eu finalmente sair do mundo do faz de conta? Tenho medo. Parece que a realidade coloca peso nos músculos do rosto. Fico me perguntando se vale a pena aprender a encarar a vida e perder a habilidade de sorrir. Bem, só vou saber se me aventurar nessas tentativas de ser alguém que tem ideias que se tornem concretas.
      Vou dispor minha força e meu cansaço. Ganhar confiança e desconfiança. Parar de ser aquela boba que acredita no que quer ouvir e escuta o que qualquer estranho fala. Fácil de enganar, de roubar, de sofrer. Vou ser o oposto de tudo que sou para me tornar a sombra do meu medo. Se isso me trará satisfação por completo eu não sei, mas que eu estou dolorida de tanto tapa na cara, ah, eu estou.

Saturday, January 12, 2013

Parte 1

      Cinco da manhã e ela ainda não conseguia dormir. Sabia que havia feito besteira e nunca mais seria vista da mesma maneira. Pensava qual seria seu próximo passo, se perguntava se existiria mais algum passo. Sentia-se envergonhada, constrangida, tudo deu errado.
      Duas semanas antes, no mesmo horário, ela estava tendo o sonho mais doce de todos, melhor que qualquer outro, apenas pelo fato de ser real. Depois de uma festa catastrófica, ela estava sentada o jardim da casa, seus amigos caídos no chão de tanto álcool que tinham ingerido. Naquela noite pessoas brigaram, chifraram, dançaram, gritaram. Foi um desastre divertido no final das contas. Ela já estava sóbria, afinal tinha bebido pouco. Levantou-se e andou até a varanda da casa, sentou no banco de madeira que ficava virado para o nascer do sol, por que não apreciar a vista? Rebobinava todos os loucos momentos da festa. O mais louco de todos insistia em interromper os outros.
      Pouco depois de chegar na casa de uma conhecida da faculdade, avistou o garoto dos seus sonhos. Ele era um veterano charmoso, atraente, que fazia muitas garotas suspirarem. No entanto, ele já tinha sua própria garota. Não que isso impedisse ele de ficar com outras, pois ele estava em um relacionamento aberto, mesmo sua namorada estando em um fechado. Meio difícil imaginar como uma garota pode aguentar  esse tipo de coisa, mas o que os olhos não vêem o coração não sente, certo? Ele fazia de tudo muito bem escondido para não magoar o "amor da sua vida", coisa que ele deixava bem claro em todas as redes sociais e na frente de qualquer um quer perguntasse sobre eles.
      Ela e o resto do mundo sabiam que a namorada era uma idiota por aceitar aquela barbaridade. Ela podia até amá-la, mas se fosse forte o sentimento, ele nem faria questão de se meter em toda saia que encontrava pela frente. Bem, é o amor, não é? Ao contrário do que a maioria das histórias costumam dizer, ela conhecia o bonitão. Eles eram bem amigos para falar a verdade, logo ela se sentia mal de ter esses pensamentos quanto a conduta dele com a namorada, sentia-se péssima por se apaixonar por alguém que não presta para um relacionamento e que já está em um.
      - E aí, garotona? - um grito em meio a tanto barulho.
      - Oi, Dan! - ela sorriu sem jeito para seu tão amado amigo.
      - Pensei que você não fosse chegar - agarrou o braço dela e puxou para um canto menos barulhento e falou baixinho - você nem sabe.
      - Não sei mesmo! - mesmo já sabendo do que se tratava.
      - Tá vendo aquela gata ali? - apontou para uma morena dos peitos enormes.
      - Sim, estou vendo os peitos dela - ela brincou.
      - É! Isso aí. Adivinha o que eu fiz com ela? - usou os gestos obscenos de costume.
      - Você não presta - ar de reprovação que sempre acompanhava aqueles gestos - Cadê a sua gata, ein?
      - Ah.. ela ainda está chegando. Não se preocupe, ela não vai saber disso. Ela nunca sabe.
      - Ai, ai. Você que pensa, seu idiota
      Ele deu uma risada, a risada que ele sempre dá quando ela ficava revoltada com ele.
      - Cara, adoro quando você me chama de idiota - ela não sabia o que era pior, quando ele a chamava de  "cara" ou "maninha" - amo você, maninha. - melhor ainda quando vinham juntos na mesma frase.
      - É, é.. eu sei.
      Então eles voltaram para onde o som estava mais alto.