- É a obsolescência programada.
Essas palavras emputeciam os nervos calmos dele. Ela jogava a culpa na vida e nas pessoas que a rodeavam, porém estava mais do que óbvio que o responsável por essa programação era ela.
Pensando em tudo isso e mais um pouco, os pés dele seguiram um comando oposto ao previamente enviado. Meia-volta pouco antes de chegar ao trinco da porta, agora em direção ao quarto em que a teimosia estava. Cabisbaixa, foi assim que ele a encontrou e isso funcionou como um impulso para reconstruir o edifício, dessa vez com outras proporções e propósitos. Dessa vez era uma fortaleza que ele iria ser. Seus passos ainda silenciosos, não despertaram a atenção dela. A voz, agora impossível de calar, assustou a teimosia. Os lábios desenhando palavras nunca ditas antes, tão convincentes, tão claras, tão tocantes. Talvez elas até estivessem se repetindo, mas um edifício mal construído é diferente de uma fortaleza pronta para o contra-ataque. A realização foi tamanha que não surgiu uma faísca de ataque da inimiga amiga. O susto inicial não se manteve, o que a enfeitiçou nas palavras foi a confiança. Foi a certeza do que estava sendo dito sem lágrimas, apenas com dor e conhecimento. A dureza das palavras derreteu todas as barreiras da fortaleza dela, a qual ele imaginava que existia, mas não sabia que bastava se igualar para derrubar.
Naquela tarde que virou noite não houve sabotagem de nenhuma das partes. Naquela noite que virou dia não houve arrependimento. Naquele dia que virou o resto da vida deles nada mais foi escondido ou temido.
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