Sunday, November 17, 2013

Lá e cá

      - Tá vendo aquele casal?
      - Qual?
      - A menina de blusa branca e o cara com a blusa vermelha. Ali. Perto do banheiro.
      - O que tem eles?
      - Ele parece estar louco por ela, mas ela parece tão...
      - Insegura?
      - Não.
      - Desinteressada?
      - Não é bem isso.
      - O que é, então?
      - Perdida, eu acho.
      - Perdida? Como assim?
      - Ele procura os olhos dela, ela encontra os dele, mas ela não parece estar ali.
      - É como se ela olhasse para dentro dela enquanto ele faz o mesmo, não é?
      - Mas... ela está apaixonada por ele.
      - Como você sabe disso? Não parece.
      E então ela calou. Perdeu seu olhar por um momento para tentar não dar dicas do que sentia por ele.
      - Diz. Como você sabe disso?
      - Eu apenas sei - resposta brilhante, não é?
      - Qual é? Eu sei que você tem provas para provar o fato, senhorita detetive.
      A respiração descompassada quase não permitiu que ela respirasse fundo e procurasse pelas palavras para comprovar sua hipótese.
      - Viu como ela fecha os olhos quando ele beija a bochecha dela?
      - Estou, mas isso não quer dizer muita coisa. Pode ser um reflexo.
      - Não. Você não prestou atenção. Ela exprime um leve sorriso quando ele a beija. Num é só um reflexo. Sabe quando você fecha os olhos para sentir melhor o cheiro de alguma coisa? Para ouvir melhor um sussurro?
       - Até que sei.
       - É justamente isso. Aquele beijo é o que ela que sentir melhor, guardar com ela.
       - E por que você disse que ela está "perdida"? - fez as aspas flutuantes com os dedos.
       Ele é tudo que ela queria, mas é tão bobinho. Isso fazia com que ela quisesse ainda mais.
       - Você é meio tapado mesmo - riu, riu para quebrar aquele clima tenso dentro dela. Riu para descontrair.
       E ele riu de volta, quase como quem confirma o que acabou de ser dito.
       - Algo a preocupa.
       - Tipo o que?
       - Ah, sei lá. Sou nem ela ou ele para saber o que se passa.
       - Desculpa aí! Achei que você teria todas as respostas.
       - Sou nem vidente - e era isso que a conquistava. As piadas, as descontrações até nos momentos de seriedade.
       - Achei que fosse! - ele brincou - Mas, sim, isso num quer dizer que ela está apaixonada por ele. Por que parecer tão distante se ela gosta tanto dele?
       - Vai ver ela tem algo para esconder - dessa vez falou baixinho. Porque ela tinha algo para esconder.
       - Oi? O que você disse?
       - Ela deve ter algo para esconder - o olhar dela encontrou o dele.
       - Algo bom ou algo ruim? - ele olhava para ela sem medo de se esconder.
       - Ah, depende do seu ponto de vista, né? - ela queria ser capaz de fugir, mas tinha tanto para ver naqueles olhos tão permissivos.
       - No ponto de vista dele.
       - Acho que não é bom - já não sabia mais de quem estavam falando.
       - E por que você acha isso, ein? - as mãos dele corriam de maneira nervosa pelos fios de cabelo.
       - Porque... - não sabia ao certo o que tinha que responder - se quando ele a beija, - conseguiu desviar o olhar - ela fecha os olhos para guardar o momento em sua mente, - olhou para o casal em questão - mas quando eles se olham, ela não consegue ser aberta como ele...
       - É porque ela tem medo - interrompeu sem pestanejar.
       - Não necessariamente - mais um vez foi fisgada pela confusão daquela conversa tão ambígua - ela pode apenas estar com problemas pessoais.
       - Mas se ela gosta tanto dele, confia tanto nele... ele saberia, não é? - seu olhar ainda fixo nela, procurando os olhos dela.
       - É, suponho que sim - e ela cansou de fugir.
       - Você está com problemas pessoais? - ele indagou com um sorriso desafiador nos lábios.
       - Não, mas o que isso tem a ver? - e ela apenas fingiu não entender por puro medo.
       Ele riu:
       - Posso beijar tua bochecha?

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