- Tá vendo aquele casal?
- Qual?
- A menina de blusa branca e o cara com a blusa vermelha. Ali. Perto do banheiro.
- O que tem eles?
- Ele parece estar louco por ela, mas ela parece tão...
- Insegura?
- Não.
- Desinteressada?
- Não é bem isso.
- O que é, então?
- Perdida, eu acho.
- Perdida? Como assim?
- Ele procura os olhos dela, ela encontra os dele, mas ela não parece estar ali.
- É como se ela olhasse para dentro dela enquanto ele faz o mesmo, não é?
- Mas... ela está apaixonada por ele.
- Como você sabe disso? Não parece.
E então ela calou. Perdeu seu olhar por um momento para tentar não dar dicas do que sentia por ele.
- Diz. Como você sabe disso?
- Eu apenas sei - resposta brilhante, não é?
- Qual é? Eu sei que você tem provas para provar o fato, senhorita detetive.
A respiração descompassada quase não permitiu que ela respirasse fundo e procurasse pelas palavras para comprovar sua hipótese.
- Viu como ela fecha os olhos quando ele beija a bochecha dela?
- Estou, mas isso não quer dizer muita coisa. Pode ser um reflexo.
- Não. Você não prestou atenção. Ela exprime um leve sorriso quando ele a beija. Num é só um reflexo. Sabe quando você fecha os olhos para sentir melhor o cheiro de alguma coisa? Para ouvir melhor um sussurro?
- Até que sei.
- É justamente isso. Aquele beijo é o que ela que sentir melhor, guardar com ela.
- E por que você disse que ela está "perdida"? - fez as aspas flutuantes com os dedos.
Ele é tudo que ela queria, mas é tão bobinho. Isso fazia com que ela quisesse ainda mais.
- Você é meio tapado mesmo - riu, riu para quebrar aquele clima tenso dentro dela. Riu para descontrair.
E ele riu de volta, quase como quem confirma o que acabou de ser dito.
- Algo a preocupa.
- Tipo o que?
- Ah, sei lá. Sou nem ela ou ele para saber o que se passa.
- Desculpa aí! Achei que você teria todas as respostas.
- Sou nem vidente - e era isso que a conquistava. As piadas, as descontrações até nos momentos de seriedade.
- Achei que fosse! - ele brincou - Mas, sim, isso num quer dizer que ela está apaixonada por ele. Por que parecer tão distante se ela gosta tanto dele?
- Vai ver ela tem algo para esconder - dessa vez falou baixinho. Porque ela tinha algo para esconder.
- Oi? O que você disse?
- Ela deve ter algo para esconder - o olhar dela encontrou o dele.
- Algo bom ou algo ruim? - ele olhava para ela sem medo de se esconder.
- Ah, depende do seu ponto de vista, né? - ela queria ser capaz de fugir, mas tinha tanto para ver naqueles olhos tão permissivos.
- No ponto de vista dele.
- Acho que não é bom - já não sabia mais de quem estavam falando.
- E por que você acha isso, ein? - as mãos dele corriam de maneira nervosa pelos fios de cabelo.
- Porque... - não sabia ao certo o que tinha que responder - se quando ele a beija, - conseguiu desviar o olhar - ela fecha os olhos para guardar o momento em sua mente, - olhou para o casal em questão - mas quando eles se olham, ela não consegue ser aberta como ele...
- É porque ela tem medo - interrompeu sem pestanejar.
- Não necessariamente - mais um vez foi fisgada pela confusão daquela conversa tão ambígua - ela pode apenas estar com problemas pessoais.
- Mas se ela gosta tanto dele, confia tanto nele... ele saberia, não é? - seu olhar ainda fixo nela, procurando os olhos dela.
- É, suponho que sim - e ela cansou de fugir.
- Você está com problemas pessoais? - ele indagou com um sorriso desafiador nos lábios.
- Não, mas o que isso tem a ver? - e ela apenas fingiu não entender por puro medo.
Ele riu:
- Posso beijar tua bochecha?
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