Oh well, esse negócio de escrever texto pessoal não me cai bem, mas em prol dos poucos que possam querer saber como é uma experiência que o Ciências Sem Fronteiras te proporciona, vou abrir mão de algumas barreiras minhas.
Vamos começar a falar de primeiras vezes. Foi a primeira vez que pisei na Europa, a primeira vez que fui no aeroporto de Lisboa, que dormi em um aeroporto, que consumi algo da Starbucks, a primeira vez que me achei sozinha em um país que não falava qualquer língua que eu conhecesse, a primeira vez que fui pegar um trem, a primeira vez que perdi o horário do trem. Logo no primeiro dia, já experimentei muitas primeiras vezes. É tudo tão novo, tão diferente. Diferente do Brasil, as coisas na Holanda são pontuais. Se o trem chega 15:34, ele realmente está parado na estação e com portas abertas às 15:34. E não tão diferente do Brasil, os cidadãos Holandeses são muito prestativos, e eu sou a prova viva disso. Durante a viagem de avião uma rodinha da minha mala mais pesada, 30 kg, quebrou. Agora você imagina como é pra uma pessoinha de 1,54 m carregar esse monstro subindo escada, descendo escada, entrando no trem. Não é fácil, e não teve uma situação dessa que as pessoas deixaram de me ajudar. Um detalhe muito importante, eu nunca pedi por ajuda, todos se ofereceram.
Ao longo desses nove dias experimentei mais algumas primeiras vezes e continuo experimentando. Para se submeter a uma experiência dessa é preciso manter a mente aberta. E não vá achar que eles vão se adaptar à sua cultura, porque não vão. Você está no país deles, inserido, mergulhado numa cultura muito ou pouco diferente da sua, mas ainda assim diferente. Aqui na Holanda, por exemplo, ninguém almoça feito brasileiro. Comer pra quente no almoço? Um pedaço de carne, com arroz e feijão? Não, não é bem assim que eles fazem. Aliás, carne aqui é bem cara comparada com o Brasil. Eu não me lembro com toda certeza, mas creio que um quilo de carne moída chega a custar 18 reais. Voltando para o almoço, eles comem algo rápido, apenas um sanduíche ou algo similar. O próprio horário de aula não te permite comer uma refeição como o brasileiro é acostumado. Como disse a mulher que deu a palestra da universidade para introduzir os alunos internacionais: "holandês não é como francês que demora três horas para comer, nós só comemos um sanduíche e é saindo de um compromisso para o outro".
Outra coisa muito importante de lembrar, uma exclusividade da língua portuguesa: saudade. Só quem passa por uma experiência como essa sabe o efeito colateral da saudade. Engraçado foi que na palestra de introdução, comentaram sobre esses efeitos colaterais. Nos garantiram que muitas vezes podemos pensar que estamos doentes e então sentirmos necessidade de ir ao médico, mas aconselharam que não façamos isso sem pensar duas vezes, pois muitas vezes a real doença é que você está homesick. Talvez essa seja a melhor palavra em inglês para descrever a saudade. Você vai valorizar as coisas pequenas do seu dia a dia no seu país de origem, vai acordar e se sentir tão só alguns dias, não vai ter quem te apoie como aquele grupo de amigos sempre te apoiou, não vai ter pai e mãe para ajudar a resolver os problemas, não vai ter muitas das regalias que costumava ter. Parece que só vai enfrentar coisa ruim, não é? Mas não se deixe enganar pela saudade, você tem de reconhecer que há muita coisa que é bem melhor que no seu país, muita experiência que você nunca teria se não tivesse saído da sua zona de conforto. O segredo é esse, fuja da sua zona de conforto e descobra o que valorizar e o que não vale a pena. Aprende a relevar algumas coisas, aprenda a observar, aprenda!
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