Sunday, November 13, 2011

Consumidos

   - Você não acha que já te fiz sofrer demais?
   - Não - disse com lágrimas na voz.
   - Por que você faz isso? - gritou.
   O silêncio dos lábios dele foi a melhor resposta que ele podia oferecer.
   Ela levantou-se da cadeira, sentou ao lado dele naquela cama que guardava tanta história. Por fim, beijou os lábios calados.
   - Não percebe? Não percebe que a única coisa que faço é te machucar?
   - Você me faz feliz também... - perdeu seus pensamentos no mundo lá fora.
   Ela riu inconformada:
   - Do que adianta eu te fazer sorrir em um segundo e fazer-te chorar por uma hora?
   Os lábios dele contorciam-se em choro, enquanto ele prendia ao máximo aquelas lágrimas dentro de si.
   - Eu não sei te amar! Na verdade, eu não sei amar - ela o encarou, mas não teve reciprocidade no olhar.
   Se a avenida não estivesse tão barulhenta seria possível escutar os passos apressados daqueles corações apertados. Queria segurar aquelas mãos macias e impedi-las de partir, queria manter aquele sentimento estável e evitar machucá-lo. Infelizmente nenhum dos dois poderia garantir que tais desejos seriam atendidos.
   Voltou seu diálogo para a parede, dirigindo tais palavras aos ouvidos dele:
   - Desculpa! Por favor, me desculpa por tudo que te causei. Nunca foi minha intenção. A verdade é que eu sou complicada demais para viver, e difícil de se conviver. Todas as vezes que eu quiser te provar o quanto te amo, te excluindo desse caos, você vai entender como uma fuga. Não é! É apenas um cuidado. Eu vou afundar... - ela respirou fundo, dessa vez, era seu choro que queria fazer-se presente - e não quero, nem posso, levar você comigo.
   - Eu te amo - foi tudo que aquela boca contorcida em tristeza conseguiu proferir.
   - Eu também te amo - não foi mais possível guardar aquela mágoa que lhe assolava e entre soluços ela continuou - e é por isso que estou indo embora. Porque te amo o suficiente para te fazer feliz, e exacerbadamente para saber que nunca vou conseguir te fazer sorrir como merece.
   Olhou para ela. Ela não conseguia olhar para ele. Posicionou aquela fraqueza dela em seus braços como costumava fazer quando ela estava triste, mesmo que ela negasse que estava sofrendo. Ela deitou a cabeça nele, com a audição voltada para aqueles batimentos nervosos, como costumava fazer quando fingia estar bem. Por alguma razão, ele sentia que a protegia com aquele abraço de tudo que viesse atormentá-la, e ela sentia-se mais calma, menos só, quando ouvia aquele coração exaltado de preocupação.
   - Eu te amo - silenciou - eu te amo o suficiente para entender seus motivos e te amo incontrolavelmente a ponto de não te deixar partir - engoliu o choro.
   Ainda quebrada e machucada, conseguiu sorrir. Ele sempre lutou por ela, até quando o rejeitou.
   - Se você for, quem vai organizar tua confusão? Eu posso não ser a pessoa mais indicada, mas sou a mais esforçada. Se você for, como posso garantir que irá sorrir? Como vou cuidar de ti estando tão longe? Eu quero cuidar dos teus problemas, das tuas interrogações, das tuas dúvidas.
   - Mas isso te machuca. Cuidar de mim te faz mal - a tempestade que estava dentro dela se fez evidente naquele quarto - Você tenta me convencer todos os dias de fazer algo que seja bom para mim, mas eu não consigo. E você insiste em lutar para que eu seja feliz, para que eu participe do sorteio da felicidade. Quanto mais você luta, mais eu desconfio que não vale a pena. Não por você, mas por mim. Você é muito bom para mim, e lutar para me provar o contrário só consome tuas forças e...
   Ela beijou aqueles lábios frenéticos e sussurrou:
   - Mas não consome meu amor.

1 comment:

  1. Você disse que não sabia porque tinha escrito isso... Mas cara, que situação.
    É meio rotineira, mas a expressão... É como se eu me sentisse presenciando essa cena, ou mesmo vivendo-a.
    Enfim, passou a mensagem!
    Nice work.

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