Sunday, November 6, 2011

Figuração

   Ela cria universos paralelos onde pode fantasiar toda a sua vida em forma de histórias, umas trágicas, outras maravilhosas. Um submundo que realiza todos os sonhos e os sorrisos não são falseados, em uma galáxia distante, tudo dá errado, a lei de Murphy reina nas suas manhãs escuras e suas noites em claro.
   Insiste num sonho que virou pesadelo, faz um pesadelo tornar-se real na sua vidinha mais ou menos. Uma hora quer tudo, em outra diz nada. Seus pensamentos contradizem suas ações. Fala direita, vai esquerda. Sua mente controla sua compulsão de indecisão.
   Sente uma necessidade incontrolável de ouvir dos outros o que seu inconsciente diz que é errado, quando escuta o contrário, finge-se de surda. É uma teimosia de adolescente, num corpo de mulher, com mente de criança.
   Dissolve-se em lágrimas quentes, com um coração hesitante e batimentos incertos. Em um de seus universos esse choro é chuva rosa que embeleza uma cidade de paixão, em que tudo é em dobro e em cada esquina há um casal abraçado. Num mundinho pequeno e distante, as batidas do coração formam uma melodia perfeitamente equilibrada em melancolia e felicidade.
   Caminha como quem quer chegar em algum lugar, mesmo quando corre infinitamente para o nada. Escolhe a estrada cheia de monstros que assustam com sorrisos sinceros, cheia de fadas que encantam com sua malícia secreta. Senta em uma pedra molhada e macia, repousa sua cabeça nos espinhos duros das roseiras.
   Naquele outro paralelismo, as rosas são tão cheirosas quanto perfume e tão vermelhas quanto sangue. Nesse lugar, sangrar é bonito e agradável. Então sofrer não parece tão ruim, a dor é alívio, a ferida é paraíso. Ao lado encontra uma faixa de terra coberta de falsas intenções e verdadeiros insultos. Pisa enquanto anda, corta-se enquanto pisa. Já aí, a dor não é tão bem-vinda e a ferida não é tão bonita.
   Perde-se tanto nessa imaginação fértil que quando tem de abrir os olhos para o único universo palpável não sabe se deve amar o sofrimento, ferir seus momentos ou fingir seus sentimentos. O que podia ser um simples mal entendido vira um caos eterno, pois ela fica refletindo em todos os outros universos que a mente dela fez questão de provar que são reais. Então ela encontra-se perdida nessas contradições bem colocadas, nesses pleonasmos óbvios e nas hipérboles exageradas. É o drama da vida dela, uma vida mais assistida que vivida.

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