O celular soou no meio da madrugada. Nunca teve tanto ódio da sua música favorita. Deu uma olhada rápida sem prestar muita atenção. Desativou seu despertador. Voltou a dormir. Por mais uma vez aquela música ecoou no silêncio interminável de seu quarto. Não era despertador.
- Alô - balbuciou.
- Acordei você? - ela falou meio tímida.
- Sim... não - meio atordoado.
- Desculpa - silenciou - ligo amanhã então. Volta a dormir, meu anjo.
- Tá tudo bem, amor. Pode falar - finalmente abrindo os olhos e soltando a voz.
- Eu só liguei para te dar parabéns - animação em sua voz.
- Pelo que? - ainda estava confuso.
- Você não sabe do que estou falando, né bobinho?
- Me perdoa?
- É claro que não - brincou - hoje completamos um ano de namoro e você faz o favor de esquecer? - soltou a risada que estava abafando.
Ele riu também, pois aquele risinho suave lhe fazia tão bem.
- Parabéns! Você é perfeita, sabia?
- Claro que não. Eu só pareço legal, mas acordo meu namorado no meio da noite só para falar besteira - riu mais uma vez.
- E é isso que faz de você tão completa. Consegue me estressar por um segundo e provar que é meu sonho mesmo quando acordo.
Ambos respiraram fundo e seguraram o telefone mais forte na orelha como se pudessem sentir o calor da respiração do outro.
- Eu te amo - disse emocionada - tanto! - lágrimas.
- Eu tam...
O despertador tocou mais forte que aquelas cordas que o prendiam naquele sono profundo. Levantou-se subitamente. Um travesseiro vazio ao seu lado, marcado com o peso de uma mente. Lençóis dobrados, cheirosos como a brisa da primavera. Mãos suadas, sozinhas como a solidão da estrela cadente.
Queria poder dormir pra sempre e acordá-la do sono eterno. Queria poder sentir os lábios frios quentes mais uma vez. Queria poder chorar de alegria e não de saudade. Queria tanto que o tempo não podia reverter.
Não poder matar a dor da ausência, nem viver o alivio da presença. Odiar o oposto do que precisa, amar qualquer sinônimo que lhe diga. Viver perdendo o oxigênio que agora é só dele pelo vazio que ela deixou.
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