Era manhã e não estava atrasado. No dia que chegasse tarde no trabalho só poderia estar quase morrendo ou pretendendo demitir-se. Não amava o que fazia, apenas fazia. Chegava cedo por obrigação, cumprimento de regras, nada mais.
- E aê, moleque? - foi dito por aquele amigo, não amigo, chato demais para ser respondido.
Sentou a sua mesa e começou suas atividades intermináveis do dia.
Trabalhava sob pressão, não sucumbia sob pressão. Era aclamado por seus colegas, elogiado pelos seus chefes. Não era chefe, pois não lhe caía bem. Tomar conta do trabalho alheio, dar ordens, expressar opiniões de maneira rude, eram coisas que não lhe apeteciam.
Seus dois melhores amigos o esperavam para almoçar e comentar sobre o final de semana que tiveram: falar da gostosa que levaram para casa, quando na verdade deveria ser uma mulher como outra qualquer, sem muitos atrativos, pois era apenas esse tipo que aqueles dois conseguiam fisgar.
O resto do dia se arrastou correndo como todos os outros. Ao chegar em casa preparou o jantar. Um exímio cozinheiro graças à sua mãe. Apesar de solitário, não agravava mais esse quadro comendo sozinho numa mesa de quatro lugares. Apenas sentava em seu sofá confortável enquanto assistia alguns programas sem muito favoritismo.
Uma semana como a dele chega a ser deprimente para a maioria das pessoas, não tem graça ao ser contada, mas aí que mora a peculiaridade, ninguém quer saber de uma história massante do cotidiano. O interessante, no entanto, é que nenhuma história é massante o suficiente ao ponto de não merecer ser contada. Todo mundo tem pelo menos um ápice que merece ser citado em sua vida. O desinteresse com o que acontece é o que há de contagiante na vida desse homem.
No dia da sua entrevista de emprego, perguntaram:
- Qual foi uma das maiores aventuras da sua vida?
- Foi no dia que fui comprar uma barra de Sneakers na máquina, mas ela estava com problemas. Então, caíram duas.
Impossível entender como isso, de certa forma, ajudou na sua contratação. Seu local de trabalho requer muito movimento e criatividade. Os chefes estavam cansados de ouvir aventuras tão emocionantes que soavam claramente irreais. A sinceridade na voz dele ao responder soava como um sarcasmo, porém sabiam que não era. Isso impressionou.
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