Wednesday, December 7, 2011

Crônica de passagem

     Ele corria, o mundo tremia. Não sabia exatamente o que lhe perseguia, mas ele tinha de fugir dali. Estava levemente iluminado aquele caminho bizarro pelo qual passava voando.
     Sentia um tremor repentino no chão que mal pisava, algumas vezes efêmero, outras ameaçando um terremoto. Corria sem parar, sem cansar. Parecia imbatível, inalcançável. Sentia-se um super-herói digno de um gibi próprio. Faltava aquela capa que a maioria dos salvadores tinham, mas ele não estava salvando ninguém. Estava apenas fugindo como um covarde que molha as calças de medo. Não merecia ser a estrela de um filme com várias regravações.
     E corria, corria... O terror já estava com ele, no entanto, o enigmático perseguidor não era visível, nem invisível. Era como se ele soubesse exatamente o que lhe perseguia, mas não fazia nem ideia do que era.
     O ambiente começou a esquentar como se o sol estivesse ao lado dele, mas a escuridão misteriosa permanecia. O calor começou a tomar conta e o suor molhou seu rosto. O cansaço ainda não havia chegado, mas suava como se fosse desidratar a qualquer momento.
     Estava mais próximo. O que lhe seguia quase tocava seus passos recém formados. O pânico fazia com que seu corpo tremesse só de pensar na possibilidade de ser confrontado por aquele gigante silencioso que corria atrás dele.
     Debatia-se, os passos estavam mais próximos. Assustava-se, risadas de deboche invadiam o silêncio. Corria, estava perto demais para escapar. Arrepiava-se, o perseguidor o cercava por todos os lados. Clarão inesperado, horripilantes imagens, grito de suplício.
     Acordou!
     Os passageiros do ônibus não conseguiam conter os risos. O sol batia em sua face. Aquela lotação pintou de vermelho suas bochechas. Estava cansado de correr, suado de calor, envergonhado. Todos fixados na expressão assustada dele, enquanto ele tentava desviar seu olhar para as calçadas movimentadas.
     Depois de muitos minutos desviando sua vergonha, olhou em volta e ninguém mais parecia se importar com aquela cena tão recente e tão distante. Continuava fatigado. Acomodou-se naquela cadeira desconfortável e de alguma maneira conseguiu sonhar nos intervalos calmos em que os buracos do asfalto não ricocheteavam sua cabeça.

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