Friday, September 30, 2011

Parque de diversões

Estava conseguindo tirar-te dos meus pensamentos, conseguindo seguir em frente. Até beijei outros, olhei nos olhos de outros. E todas as vezes que acho que finalmente não fazes mais parte de mim, voltas alegando saudade. Eu, boba, acredito. És meu ideal de amor. Foi contigo que sorri minhas piadas, que chorei minhas dores. Foi de ti que escondi esse sentimento, apenas por medo de perder-te sem nem ao menos ter conquistado ainda. Contigo vi o pôr do sol e quis beijar-te naquele momento. Naquela hora que o céu não se decide se escurece ou continua claro. Naquela hora que eu não me decidia se te abraçava mais forte ou segurava tua mão. Por um engano, um deslize. Tomaste conhecimento de que era quem mantinha meu coração pulsando. Não sabia para onde fixar meu olhar: no teu ou no nada? Se olhasse nos teus olhos e não visse nada, não iria aguentar a dor fulminante. E se mirasse o nada e enxergasse teus olhos? Estariam eles olhando nos meus? Surpreendeste todas as expectativas, tiraste todas as minhas dúvidas. Por um milagre, sentias o mesmo. Ou, pelo menos, foi o que me disseste. Toda aquela magia das histórias de princesas que encontravam o príncipe e viviam felizes para sempre não era párea para o encanto que ali se formou. Com uma bruxaria vinda de um livro de magia negra barato, quebraste o feitiço. Traiu meus sonhos, nossos sonhos. Como um vaso de cristal que caí do décimo sétimo andar, ficou aquilo que eu costumava chamar de coração, aquilo que tu prometeste cuidar. Fizeste o contrário. Roubou, levou para longe, mal tratou. Rondando sem rumo fiquei nessas ruas de sonhos destroçados. Nos teus olhos via pedidos de misericórdia todos os dias que nos encontrávamos. Eu sou boa, tu sabes. Nunca vou te odiar, te desmerecer. Fizeste bom uso dessa minha qualidade, mal uso do meu amor. E hoje, corres para colar os pedaços do meu vaso de cristal, e os tritura em pedaços irreparáveis logo em seguida. Por favor, para de fazer isso. Para de abusar desse sentimento imortal e dessa dor incessante. Dizes que não vive sem mim, creio que não consegues viver sem ser meu dono. Um dono que cuida, machuca, repara, destrói, reconstrói, esquarteja, junta os pedaços. Um dono que não se decide se vai ou se fica. Derreto-me toda vez que ficas, desfaço-me toda vez que me abandonas. Viro gotas dispersas nessa história. Perco meu todo, esqueço o que sou. Peço que pare! Meu pobre coração não suporta tanto vai-e-vem. Se gostas dessa brincadeira, encontre um novo parque de diversão.

Monday, September 26, 2011

Caos

Uma mente sadia resolveria praticamente todos os meus problemas. Bem, não o que tenho por meus problemas hoje, pois os meus atuais problemas não cabem apenas a mim a resolução. Com a mente insana que tenho, problemas alheios tornam-se meus problemas também, dos quais, nem sempre, a pacificação está ao meu alcance. Não que eu seja diagnosticada com sérios problemas, mas não preciso de um diagnóstico para perceber que minha preocupação exacerbada com o bem-estar dos que nem conheço e minha indiferença com minha própria felicidade é uma insanidade. Vai dizer que todos que habitam o mundo neste século, principalmente neste século, inquietam-se com a tristeza da pessoa ao lado? Negar que há, de fato, alguns que se salvam nesse quesito seria ignorância minha, porém eu sei, você sabe, todos sabemos que a maioria é egocêntrica e pensam "Vou viver minha vida. Fodam-se os outros" (desculpe o palavreado). De certa maneira, essa frase passa pela minha cabeça diversas vezes. Uso-a, no entanto, com um intuito diferente. Uso-a no intuito de viver o que eu quiser viver, como eu quiser viver sem preocupar-me com o julgamento dos outros, e não com o intuito de viver como quero sem preocupar-me se uma atitude minha afetará negativamente a paz de espírito dos que me rodeiam. Voltando ao pontual e esquecendo do geral... a minha mente. Minha loucura, Minha confusão. Soou egocêntrico, eu sei. O que posso fazer se a mente é minha? Garanto que se eu pudesse trocar com uma pessoa mais intuitiva, o faria. Nem que fosse por alguns dias. Pelo menos conseguiria arriscar sem medo de errar. Grito aos sete ventos que não tenho medo de errar. Realmente não tenho. Porém, como já disse, minha mente é insana e tende a dividir-se em várias opiniões ao mesmo tempo. Um lado que não teme errar, que só clama pelo aprendizado. O outro que prefere ficar na defensiva do que sentir-se burro depois de arriscar algo que tinha muitas chances de não funcionar. Outro lado que não pensa, apenas age. São muitas as faces desse intelecto fora do comum. Imagina que vai atravessar a rua. O que você pensa? Olhar para um lado e para o outro, como foi ensinado quando ainda era criança, se não vier carro, atravesse. Também penso isso. Penso também que posso tropeçar no meio do caminho e não ser rápida o suficiente na hora de levantar ao vir um carro. Posso distrair-me com uma borboleta verde e azul e quando me der conta de que um caminhão está chegando, ser tarde demais. Alguém que está ao meu lado, pode, na verdade, apenas estar esperando a hora certa de pegar minha bolsa e sair correndo. Parece paranoia, eu sei. Não é! Entenda, é apenas uma mente que não encontra paz, nem por um segundinho sequer. Uma mente mais movimentada que as ruas de uma metrópole na hora do rush. Seria mais fácil. Muita coisa seria mais fácil se a paciência, a calma, a paz estivessem mais integradas nesse meu sistema psicológico. O próximo passo seria quase que impensado e o passo seguinte a esse nem seria uma preocupação. Seria mais simples seguir meus instintos e deixar as consequências bem longe pelo maior período possível. Uma mente saudável iria ajudar-me nas decisões mais complicadas e não ia mudar de ideia de minuto a minuto. Porque ela é indecisa. Uma hora quer lutar com todas as forças que pode juntar, outra ela prefere descansar esforços. Acabo sem lutar, sem arriscar, porque não faria tais coisas por alguém que não tem certeza se fará o mesmo por mim. Não vou tentar, se não tentarem comigo. Talvez seja o medo de estar sozinha. Porque já basta essa solidão interna, não preciso fantasiar companhias que não existem para fazer as coisas acontecerem. Quero o concreto para enfim concretizar.

Sunday, September 25, 2011

32 quilates

Estava eu sentado a minha mesa dando rodopios em meus pensamentos afim de encontrar palavras para dar o pontapé inicial no meu novo livro. Televisão ligada em um canal no qual passava um filme clichê. Uma adolescente mal compreendida pelos pais, apaixona-se pelo garoto mais popular da escola. Por alguma razão insana, ele enxerga a essência dela. E toda aquela baboseira repete-se. "Será que devo escrever mais um texto previsível?" pensava alto. "Sim" ecoou a televisão. Demorei-me alguns segundos para perceber que o filme era americano. Seria impossível escutar tal palavra saindo da boca daqueles atores. Ao não ser que o filme fosse dublado, mas como abomino dublagens, principalmente as de novela mexicana, com certeza, mesmo que fosse apenas para preencher o silêncio da casa, o filme não seria dublado. Lembrei-me do pouco que sabia da língua inglesa, o que, no entanto, era o suficiente para saber que o que havia escutado era a palavra "sin", o que na nossa língua significa "pecado". Ali estava meu pontapé:
"A vida e suas ironias. A espécie humana tão igual em anatomia e tão diferente em cultura. Uma espécia contraditória, estranha, incompreendida na maior parte do tempo, como diriam os jovens, mais conhecidos como adolescentes, ou até mesmo, aborrecentes. A simples percepção de que uma palavra com a mesma sonoridade pode ter dois significados diferentes em cada uma das línguas em que ela é usada. "Sim", significa consentimento. "Sin", significa, ao ser traduzida para o português, pecado, que por sua vez significa vício, erro. Por quantas vezes nessa vida iremos consentir o erro? Um aborrecente como outro qualquer encarou o "sin" como um "sim", e transformou tudo aquilo que tornar-se-ia em um futuro promissor, na maior perdição de todos os tempos."
Um diamante não lapidado. Talvez essa seria a melhor definição para o começo do meu novo livro.

Wednesday, September 21, 2011

Estudos

Tudo que eu queria era a experiência. Saber como é ter alguém para rir, abraçar, beijar. Alguém que vai me ouvir, olhar, me amar. Só queria saber como era namorar. Sei que parece estúpido e idiota da minha parte brincar com o coração de alguém apenas para ter uma bagagem maior de vivência no campo dos relacionamentos amorosos. Não só parece, como é realmente estúpido. Tenho plena consciência disso. É só que já brincaram demais com o meu coração e toda vez que terminava com ele partido em minhas mãos, prometia que não ia deixar o medo desse fato se repetir impedir que eu soubesse como era todo esse processo afetivo entre um homem e uma mulher. Sem dúvida achava mais fácil simplesmente não envolver-me com ninguém, assim não teria que passar pelo mesmo evento doloroso de ter todos os seus sonhos destroçados, porém acabaria por não viver a vida que me foi dada. Não podia deixar de fazer tudo por medo, senão o ar que eu respirava não seria digno de mim. Fiz um pacto comigo mesma em prol desse presente que me era dado todo dia: a vida. "Juro solenemente agarrar toda oportunidade que me for dada de experimentar todo e qualquer tipo de relacionamento. Juro, também, não envolver qualquer tipo de sentimento em meus experimentos". Eu sei, eu sei. Como poderia eu namorar alguém sem sentir nada? Não posso complicar minhas pesquisas por exacerbado envolvimento com o objeto da pesquisa. Os resultados e a conclusão seriam comprometidos e todo o estudo iria embora por água abaixo. Sou uma idiota. Eu sei. O que posso fazer se queria viver, mas não queria sofrer? Entenda. Era tudo isso que eu queria. Só isso! Envolver-me sem envolvimento. Você deu-me a oportunidade, e como meu juramento dizia, agarrei-me a ela. Permiti lentamente que conhecesse o que lhe estudava. Concedi-me uma folga dos tais estudos para compreender melhor o que se passava na mente do meu objeto de estudo. Todos os dias você se fazia presente nos meus pensamentos. Sua voz ecoava em meu ouvido, seu abraço laçava meu corpo. Os desvios do foco da pesquisa foram ficando cada vez mais constantes, até que peguei-me envolvida demais com você. Já estávamos em sintonia. Nossos beijos já não eram motivos de novas anotações, o fôlego que você me tirava não era mais uma peculiaridade notável e plausível para minha pesquisa. A naturalidade do relacionamento, do nosso relacionamento ficou evidente não só para mim, ou para você. Apaixonei-me por você. Destruí os esforços aplicados no estudo, deixei-me levar pelos seus encantos. As suas histórias de vida empolgavam o brilho nos meus olhos, seu sorriso provocava meu sorriso. Suas complicações viravam minha preocupação. Sua vida virou a minha. Estava amando, estava envolvendo sentimentos onde não deveriam existir. E sabe toda aquela experiência que eu queria ter com qualquer um que me providenciasse um ensejo? De nada mais servia se não fosse com você. Aquela vivência de relacionamento, altos e baixos, amor e ódio, carinhos e brigas, de nada mais valia se não estivesse brigando com você, acarinhando seu cabelo, amando seu sorriso, odiando suas falhas. Peço com todas as convicções que você me fez descobrir que estavam erradas, com todos os meus enganos, com todo meu amor, que fique. Não me deixe, não me abandone, pois foi agora, nesse exato momento que percebi o quanto é importante para mim. Foi agora, nesse exato milésimo de segundo que me dei conta de que nada mais fará sentido se não for você o resultado falho da minha pesquisa. Foi você quem me provou que essas pesquisas são equívocos de que é possível viver isenta de sentimentos, e é com você que quero viver essa descoberta. Fica. Fica comigo?

Tuesday, September 20, 2011

TEMPOrário

O tempo é traiçoeiro. O tempo cura. Pensamos que é eterno, que somos imortais. Não somos, não é. Está tudo bem nesse segundo e no próximo pode ser quase uma terceira guerra mundial. Em um minuto você é a pessoa que me entende melhor, no próximo nem sem ao menos quem é. Uma hora te amo além do possível, na outra não aguento o peso das suas palavras. O tempo é inconstante por mais que siga um padrão. Sessenta segundos, um minuto. Sessenta minutos, uma hora. Eu e você. Nós tínhamos tudo que duas pessoas poderiam querer. Carinho, afeição, entendimento, amor. Sim, amor! Perdemos. O tempo ladrão, roubou nossa paciência. Por alguma razão ínfima, uma bola de neve formou-se entre nós. Quando achei que podia remediar, a única coisa que saia de mim eram gritos. Meu ódio, minha raiva. Você gritava mais alto. Sua raiva, seu rancor. Nos afastamos. O tempo borracha, apagou a dor. Doeu não ter você como queria ter. Não conversar com você o que costumava conversar. O tempo apagou apenas a dor. A saudade permanecia. Você me entendia, me consolava, me abraçava, me olhava e me via. Por ti, eu fazia o mesmo e mais um pouco sempre que possível. Ontem fiquei sabendo da sua partida. Não estava na minha vida há um tempo, mas saber que não tinha sua vida foi mais devastador que todos os meses em que estávamos distantes. Todos os dias que pensava em você e lembrava do que éramos. Todas as horas que percebia que não éramos mais nada. Foi pior. Foi pior do que qualquer sensação ou sentimento que já havia tido. É indescritível, imensurável, impensável. É dor que não dói. É dor que mata. Mata a cada segundo. Morria sessenta vezes por minuto, pois eu sabia que você tinha morrido apenas uma vez, em um segundo. Desculpa! Desculpa-me pelos dias que lembrei da sua voz e não liguei para ouvi-la, pelos pensamentos em que você estava presente e te fiz ausente ao meu lado. Perdoa-me pela piada que não contei apenas para ver teu sorriso, pelo abraço que não te dei para sentir teu calor, pelo olhar que não te direcionei para enxergar sua essência. Desculpa-me por todos os dias que me arrependi daqueles gritos e não corri para tua compreensão para deixar tudo bem. Perdoa-me principalmente por não ter perdoado teus gritos daquela noite. Agora sei que a vida é efémera. Sei que deveria ter feito muito mais por ti e menos pelo meu orgulho. Nem se eu chorasse todos os dias dessa breve vida que me resta, poderia expressar a dor que sinto em não ter te ouvido, sentido, olhado. É surreal. Um dia eu te tenho por inteiro, outros te perco aos poucos, hoje se ausenta por completo. E eu? Como fico? Sou apenas mais uma passageira dessa ilha que chamam de vida, eu sei disso. Só quero entender por que você partiu tão cedo. Quero entender porque não te dei adeus. Na verdade, quero entender porque não te disse "Oi!" todos os dias dessa viagem. Perdoa-me, apenas isso. Eu te perdoo.

Sunday, September 18, 2011

Pequena palavra

Gosto de algumas palavras, sabe? E tenho uma mania meio estranha de ficar escrevendo-as por aí, sussurra-las em meio a tanto barulho ou na calada da noite. Até já tive um caderninho no qual anotava as palavras que acharia interessante de ver em um texto para criar todo um enredo em cima delas. Quando escrevia poemas, escutava uma palavra legal, instantaneamente criava uma frase na qual ela estivesse e procurava uma boa rima. Eu era regular na escrita de poemas. Gostava mesmo de descrever momentos, principalmente os que envolviam lágrimas, dor e sangue. Sabia que é mais fácil escrever sobre dor do que sobre amor? Pelo menos para mim, é. Obscuro, rasgante, dilacerado... tais palavras vêm mais facilmente a mim do que: amor, alegria, luz. Tal afirmação enquadra-me facilmente como uma depressiva ou algo do tipo, certo? Garanto que logo depois que terminei de escrever a última frase dei uma risadinha sarcástica. Tanta gente fala de depressão para lá e para cá e não fazem a mínima ideia do quanto isso é sério, não têm nem noção de que isso é uma doença. Não, eu não sou depressiva. Só estou tomando a voz das pessoas que sofrem desse mal e sabem de fato o que é se afundar em uma maré eterna de dor, vazio, sofrimento. Desviei-me facilmente do real assunto tratado nesse texto. Desculpe-me, é que algumas coisas me deixam assim... digamos que um pouco revoltosa. Enfim, as palavras. Algumas são em inglês, como "pleasure". Outras são em português mesmo. Apenas sei que muitas vezes uma única palavra me inspira um texto inteiro. Ah! Engraçado... vivem dizendo que somos como uma gota no oceano, um grão de areia na praia, porém, mesmo sendo tão pequenos e insignificantes, somos indispensáveis. E assim são essas palavras para mim. "Saudade". Uma palavra, sete letras... e uma infinidade de textos diferentes que podem ser formados a partir dessa leve combinação de vogais e consoantes. É meu grão de areia: saudade. Perdi a conta das vezes que essa palavrinha veio a minha cabeça, marcou minhas cartas, foi redigida em meus textos. São tantas as pessoas que me ensinaram o significado dela. Tantos os momentos que provocam o flash desse sentimento em mim. É só UMA palavra, mas que palavra, viu? E minha gota d'água. Uma só palavra que escreve meu oceano. Que como uma onda atinge as pessoas, leva embora a agonia, a aflição, a confusão. Traz a clareza, a paz, a calma. Ou não. Pode piorar o quadro. Devastar o lar. É minha gota d'água, só uma gota d'água que compõe o oceano.

Saturday, September 17, 2011

Engano meu

Tentei, não tentei? Acho que sim. Pedi o que mais queria, na hora que queria. Você, no entanto, estava muito ocupada com pensamentos que não envolviam minha pessoa. Tudo bem, eu aceitei. Via sua dor, preocupação, seu carinho... Via que seus pensamentos pertenciam a uma fonte incerta, alguém que não estava tomando os devidos cuidados do seu coração. Fiquei impotente. Tudo que podia fazer era calar-me e aguardar o caos. Entendi seus motivos e os recebi como um tapa na cara. Só doeu na pele mesmo, o coração continuava intacto, pois nem sequer existia. A onda de complicações tornou-se em um tsunami. Em sua cabeça havia o ódio escondido no meio de tanta aceitação. Você pensava que não, mas eu sabia o que havia acontecido. Confesso que aproveitei-me da situação. Festa, bebida, música, mágoa, coração machucado. Combinação perfeita para enfim conseguir o que meu corpo tanto queria. Nem pensei duas vezes, joguei meu charme, você caiu. Não queria te ferir, você sabe, só tinha essa vontade egocêntrica de prazer. Eu estava a te usar, porém a cada minuto que passava tinha mais certeza que o contrário se fazia mais presente. Você queria superar e estava, de maneira errada, fazendo isso. Usou meus beijos, meus toques, meu hálito, meu abraço. Eu me senti usado. Eu fui, não fui? Meu corpo queria o teu, pois ele sabia que o teu tinha algo que muitos outros não tinham: cérebro. Você pensava. Sabia muito bem usar sua inteligência para ter o que queria e quando queria. Fui apenas mais uma vitima dessa sua frieza, não fui? Achei que ia te ferir, mesmo não querendo. Acabei me ferindo nem percebendo. Fui vitima desse seu crime. Você sequestrou minhas forças, minha frieza, meu ceticismo. Deixou-me apenas com o carinho, a paixão, o encanto. Seu crime perfeito me encantou, confesso. Síndrome de Estocolmo, conhece? Sofro dela. Apaixonei-me pela responsável desse sequestro. Sempre pensei que a maior probabilidade seria o contrário. Enganei-me, não foi? Só queria te levar pra cama, suar no teu calor e acabei, também, bebendo do teu veneno. Tudo bem, pequena. Eu supero. Você já superou. Eu também sou capaz de tal desfecho. Você nem precisou esquecer de mim, nunca nem sequer lembrou. Eu te perdoo, pequena, apenas porque tudo que achava que iria te provocar tornou-se contra mim. Pequena, não posso te ter, sei muito bem disso, mas, por favor, não deixa ninguém usar-te como eu achei que iria. No dia que você pensar que estará a usar, será apenas um truque, você estará sendo usada.

Thursday, September 15, 2011

Teatro de mentiras

Por motivos familiares, ela nunca fez suas próprias escolhas. Flocos era seu sorvete favorito, pois sua mãe sempre dizia que era mais gostoso. Não gostava de refrigerante, pois alimentos que não são saudáveis não têm lugar em sua casa. Seus horários eram tão regrados que às vezes esquecia de respirar, já que não estava escrito na agenda a hora para viver. Ele sempre teve medo de ser quem era. Desde cedo foi desencorajado pelos amigos quando disse que queria escrever poemas e desestimulado pelos pais ao ler livros que não estivessem em sua grade curricular. E todos os dias cruzavam um pelo outro, mas nunca proferiam uma palavra ou lançavam um olhar. Viviam uma vida solitária ainda que tivessem amigos. Só não tinham amizades verdadeiras, pois nunca eram pessoas verdadeiras. Não porque tinham um vício incontrolável de mentir, ou um medo terrível de mostrar o que é real, apenas porque não conseguiam ser quem realmente eram. Discriminados na infância, passaram a juventude fingindo ser o que nunca foram. Ela tomava sorvete de flocos e ele lia poemas Shakespearianos escondido debaixo das cobertas. Aos poucos foram construindo personalidade própria, porém secreta. Separadamente sentiam o mesmo empecilho: Viver uma vida que não era sua. Com a força do destino ou por pura coincidência - nunca chegaram a um consenso, porque ele, romântico, acredita em destino, e ela, cética e realista, abomina essa concepção - seus caminhos encontraram-se. Foi instantâneo, ela enxergou a realidade dele, e ele encantou-se com a ficção dela. Quando se viam, uma ponte sólida e invisível era automaticamente construída entre eles. Ninguém sabia o que eles tinham juntos, eram discretos e espertos. Haviam passado a vida inteira criando personagens, seria muito fácil enganar os espectadores. Afinal, a platéia iria chocar-se com a troca súbita de personagens. Não podiam simplesmente tirar a maquiagem e a fantasia que vestiam, pois todo espetáculo iria perder-se. Assim, decidiram continuar com a atuação, no entanto, ao fechar das cortinas, nada mais eram que duas almas despidas. No escuro das coxias, esqueciam-se de qualquer personagem, qualquer mentira ou ficção. Escondidos de qualquer um que pudesse criticar a verdadeira essência deles, continuavam encontrando-se esporadicamente nos lugares estratégicos daquele teatro. Ela encantou-se com a sinceridade dele, e ele viu o coração dela. Gargalhavam com as peças que haviam pregado, e sorriam com os olhares capturados. Viviam como foras-da-lei. Aquela lei que impede que se mostre por completo, que seja quem realmente é. Viviam assim, em um universo particular, o único lugar que podiam ficar a vontade sem medo da crítica dos que assistem.

Monday, September 5, 2011

Carta à donzela

" Caro amigo, Sei que não deveria eu estar expondo meu coração em uma carta dirigida a tua pessoa. Apenas o faço porque és a única pessoa além dela em quem confio essas palavras. Escrever-te-ei tudo que me atormenta por agora, tudo em relação a ela. Peço-te que leia e que se necessário diga a ela que tudo isso é verdade, se um dia ela duvidar. Certamente, aquela noite foi fora do comum para um guerreiro como eu. Havia retornado de meses de batalha e encontrava-me em um baile feito especialmente para comemorar minha chegada. Estava desgostoso, pois a luta, que eu tanto gostava, havia me deixado cicatrizes irreparáveis. Olhares surpresos voltados para mim, eu estava vivo! Em meio a tanto espanto pude reparar um sorriso acolhedor. Não estava muito distante. A garota que não me enxergava era visível aos olhos de todos os que passavam, e não perecia se importar muito com tal atenção. O reconhecimento foi instantâneo. "Já vi esse sorriso antes", então pensei. De fato aquele lábios contorcidos levemente em forma de U já haviam cruzado o meu caminho. Pouco antes de uma batalha, aquela alegria contagiante passou despercebida com tanta adrenalina que me tomava. Contei as aventuras que percorreram minha história, as mortes que deixei, as pessoas que salvei. Seu interesse medíocre em meus relatos encantou-me ainda mais. Sem hesitação, investi naquilo que parecia ser impossível. Ela hesitou. Não cabia a uma dama como ela aventuras como as minhas. Viver uma noite com um bravo guerreiro em troca de que? Um escudo para se gabar para as outras donzelas depois? Com a convicção de que uma garota como aquela não poderia ocupar apenas uma noite de minha jornada, a convenci de que poderíamos ser muito mais que isso. Seu consentimento foi difícil de alcançar, no entanto minha persuasão estava mais evidente do que nunca. A menina de olhos bonitos e respostas rápidas surpreendeu-me mais do que eu havia surpreendido aquelas pessoas com a constatação de minha sobrevivência. Rapidamente compreendi que tinha em meus braços uma raridade, a qual não podia perder. Como prometido, a noite não foi única. Nos dias eu havia de cumprir com algumas obrigações, e ela com as dela. Nas noites trocávamos opiniões, ideias, carícias. O dia me rendia saudade, a noite trazia-me admiração. Segundos extensos ao lado dela provavam-me o quão especial alguém podia ser. Além de surpreendente, era difícil, teimosa, e lutava sempre na defesa. Facilmente despia minhas verdades, porém ao chegar sua hora de mostrar-se por inteira, desdobrava desculpas e escondia mais profundamente o que ninguém sabia. Eu, como um bom guerreiro, não desisti da luta facilmente. Não me dei por vencido até conseguir arrancar um pouco de sinceridade daqueles olhos. Ela derrubou algumas de suas inibições, desmoronou todas as suas barreiras. Ela confiou em tudo que eu disse ser, em tudo que prometi servir. A vi tão nua quanto as árvores no outono, tão transparente quanto as águas límpidas de cada pequeno riacho. Ela era ela quando estava comigo. Não inventava personagens ou máscaras. Confesso que fui por demasiado inteligente ao conquistar tanto espaço naqueles pensamentos infinitos que, segundo sua voz me disse, eu era o único a entender todos tão bem. A esperteza dela, por muitas estações, ultrapassava minha persistência. Pois ao mesmo tempo que lidava com as próprias confusões, conseguia descomplicar as minhas. Entendia muito bem minha fervorosa paixão pelas batalhas e implorou pelo nosso amor que eu nunca mais viajasse com esse intuito. A priore, confesso que enlouqueci com tal pedido. Como ela, que dizia me amar, queria que eu deixasse de fazer tudo que mais gostava? Mesmo sem concordar, assenti. No entanto, algum tempo depois já encontrava-me tentado a pisar em um campo de luta, a sacar minha espada reluzente e usar com destreza meu escudo. Logo, estava eu traindo a promessa que a havia feito. Parti o coração de quem mais queria zelar. Inundei de lágrimas o único rosto que gostava de tocar. Fiz gritar a boca que amava beijar. Amigo, se arrependimento matasse, não tenha dúvidas, seria mais doloroso do que ter o corpo esquartejado em uma luta. Demorei-me um pouco para perceber que tudo aquilo que ela me fez prometer foi por carinho, preocupação e para provar do quanto me amava. E como me amava. Entendo agora que o coração apaixonado não suportaria ver o amor de sua vida voltar com um pedaço a menos de cada jornada. Da mesma forma que eu não gostaria que ela voltasse com uma atitude mais apagada de cada chá que tomava com as amigas. Odiaria vê-la voltar com opiniões cada vez mais superficiais de cada reunião de intelectuais. Ela era feita disso. Era destemida, atrevida, engraçada, inteligente. E se cada uma dessas características fossem sumindo daquela alma, meu amor iria sumir também. O que a tornava tão diferente de todas as outras era a personalidade que levava consigo. Eu amo aquela personalidade. Eu errei. Confesso que errei e muito. Estou sendo covarde em estar endereçando essas confissões a você, no entanto não creio que depois do que fiz tenho coragem de explanar tais coisas àquela que tem meu coração nas mãos, àquela que fiz sofrer mais do que qualquer um podia. Sinto muito se obriguei-te a ler minhas melancolias, mas não podia guardar tudo isso no meu peito. Não mais. Obrigado por ter me apoiado na decisão que tomei mesmo sabendo que iria me arrepender profundamente. És muito inteligente em ter feito isso. Eu precisava errar sozinho para aprender sozinho. Eu ainda a amo. Desfiz-me da adrenalina de lutar. Nada mais é tão bom quanto o amor que ela fornecia para mim. Distanciei-me de tudo e todos, pois, como já disse, sou covarde. Sei que ela não me aceitará mais e não quero que doa mais do que já está doendo. O arrependimento já transformou meu coração em pó, e negação dela a minha volta seria como um furacão levando esse pó. Enfim tudo, ou pelo menos boa parte, do que me aflige está descrito nessas palavras mal grafadas. Agradeço-te mais uma vez por ser esse amigo fiel que és. Obrigado! Com dor, Guerreiro."
Seu amigo foi gentil o suficiente para fornecer-me a carta e nada doeu-me tanto do que ler essas confissões. Ele ainda me amava, ele equivocou-se. Mesmo quando partiu sem explicações não foi tão devastador quanto ler essas palavras escritas a sangue e lágrimas. Ele ainda me ama. Como pode sumir assim? Como pode perceber que o arrependimento batia a porta e não ter lutado por nós? Era o melhor guerreiro, no entanto não cumpriu com sua fama quando o campo de batalha era o amor e o inimigo era a covardia. O que mais me dói é saber que ele desistiu por medo e não que ele fugiu por um mero impulso.

Sunday, September 4, 2011

Sol e lua

O poder que você tem de me fazer sentir com que o paraíso é aqui, sua capacidade infalível de despir meu coração e enxergar meus sentimentos por trás de todo esse fingimento. Poderia passar anos sem a presença de muitas pessoas que já estiveram na minha vida, mas só de pensar na possibilidade da sua ausência, colapso. Sinto a necessidade de notícias suas mesmo quando estou com ela. Eu sei, pode chamar-me de cafajeste, pois, provavelmente, é isso que eu sou. Certa vez olhei para o céu e vi a heterogeneidade do dia e da noite. Vi seu rosto e vi o dela. Dois sentimentos tão fortes, tão necessários e inevitáveis, assim como o dia e a noite. À noite é feita de sonhos e fugas do cotidiano, o dia serve para acordar e abrir os olhos para a realidade. Ela é o dia, você é a noite. O dia é quente, tão quente às vezes que machuca. Nas manhãs tudo que queremos fazer é continuar dormindo e evitar a triste sequência de acontecimentos e riscos que iremos tomar ao levantar da cama. O dia às vezes se arrasta, de vez em quando voa. Ao fim do dia há sempre a fatalidade do escurecer. Quando as manhãs e tardes são boas, a noite entristece. Quando são ruins, a lua abonança. O frio da noite nos faz desejar alguém para abraçar, o calor da manhã exige o vento de liberdade. Você é a noite, ela é o dia. Os dias são ruins e as noites solitárias. Os dias são bons, as noites perfeitas. O dia não satisfaz, a noite completa. E assim são os meus dias, tenho ela na realidade, procuro-te nos sonhos. O amor dela é real, o seu, utópico. O que ela me oferece queima, o que você me dá faz com que te queira mais perto para aquecer. Queria entender porquê tenho essa dúvida. Quero acreditar que o dia pode curar tanto quanto a noite, e a noite ser tão real quanto o dia. Não posso, não devo. Quero escolher, porém não consigo. Apesar de todo ardor que sinto com o dia, gosto dele. Ou talvez apenas gosto da ideia dele e do que ele já foi uma vez. Tenho medo de deixar tudo que eu e ela já fomos, para me aventurar na escuridão incerta de suas confusões. A curiosidade, o fascínio despertam minha vontade. A monotonia, o vazio conotam minha indiferença. Você é minha vontade, ela é meu vazio. Há muito tempo não tinha esperança de dias bons. Você me proporcionou essa expectativa. Seu sorriso ilumina mais que o sol, suas palavras acalmam mais que um afago. Queria eu poder agora contar com todas essas qualidades naquela que um dia foi detentora de todos as boas sensações que pairavam em meu corpo. Infelizmente, hoje, o toque dela torna minha pele insensível, o perfume dela não tem mais cheiro. Eu não sei o que fazer. Quero persistir por todos os dias que já foram maravilhosos, no entanto, a noite confirma que esses dias não vão voltar. Tudo que quero é amar você, tanto quanto amo a noite. Tudo que eu quero é que o sol tenha a temperatura certa para esquentar meu corpo como já esquentou. Quero tentar com ela e arriscar com você. Não quero desistir, porque dói dizer adeus. Ela não me faz sentir, e provavelmente o que ainda me prende a essas manhãs fatídicas é a possessão. Talvez eu nem queira tentar, talvez eu só não queira fazer o dia chover. As lágrimas dela ainda machucam meu coração, mas os sorrisos dela não mais alegram minh'alma. Diz-me que vai ficar tudo bem, acaricia minha cabeça e fala-me palavras sinceras. Quero você. Quero acordar e pensar que ainda estou sonhando, implorar pelo seu beliscão apenas para ter certeza de que sonhos tornam-se realidade. Quero fazer a escolha certa. Quero ouvir meu coração, meus sentimentos, seu amor, seu desejo. Só não quero tomar minha decisão e depois de um tempo perceber que troquei o dia pela noite e começar todo o ciclo de incerteza mais uma vez.

Saturday, September 3, 2011

Ela...

Aquele olhar perdido e o coração indeciso. Quando estiver na dúvida não faça escolhas. Quando não tiver certeza não vá embora. Encare, pense, decida-se. Corra atrás das respostas mesmo que só encontre perguntas. Essas interrogações logo tornarão-se exclamações. O coração não decide quem amar, a mente não escolhe em quem pensar, os sonhos não te deixam esquecer. Os três causam um conflito em seus sentimentos e não sabe qual o mais confiável, pois o ideal seria ter todos em sincronia. Aprenda, persista, não desista. Quem tende a unir todas as sensações involuntárias de uma só vez e fazer com que se sinta tão bem? Vai amar a garota que virou seu mundo de cabeça para baixo e deixou tudo em seu devido lugar. A que entende tudo que você pensa e ainda explica tudo que você sente. Aquela que conhece suas mentiras e não desiste das sus verdades. Aquela que chegou para ficar, mesmo querendo fugir. A garota que você ama, quer, deseja... É a que você vai ter por perto mesmo que ela esteja longe, a que você vai querer por perto mesmo que ela esteja ao seu lado. Aquela que tranquiliza, que traz a paz só com o som da voz. Aquela que se preocupa e te faz rir só para que saiba que ainda é possível sentir-se bem em meio a tanta dor. Será feliz com aquela que te arrepia com um toque, e acaricia com um sorriso. Será completo com aquela que acelera seus batimentos e pacifica seu coração, não sai da sua mente e é dona dos seus pensamentos, aquela que lhe faz sonhar, mesmo estando acordado.