Monday, December 14, 2015

Uma caneta para rebobinar

Imagem de boy, light, and indie
Fonte: weheartit
      Estava sentado aqui com minha cabeça em minhas mãos, meus pensamentos no céu e meus sonhos voando por aí. Pensando no quanto seria mais feliz se pudesse rebobinar alguns momentos da vida como um cassete. Uma analogia meio old school e mais poética do que apenas usar o cursor do mouse para voltar uma bolinha ao ponto inicial. Com frequência me apaixono por canções e uso o botão de replay até quebrar (sei que não é possível, mas quebraria se fosse). Essa música me traz memórias de um passado distante, a melodia me faz dançar em lembranças recentes, uma única frase em 3 minutos é capaz de me arrebatar sem volta. Por tantas vezes quis apertar play na trilha sonora da minha vida só para fazer tudo soar mais belo, mais gostoso de se lembrar, ou rever.
      E lá vem aquela uma composição que desencadeia vinte mil sensações. E quando o arrepio acompanha a nostalgia, tudo ganha um novo significado. Meu coração pula descompassado e tudo que mais quero é poder reviver. Sentir os cheiros no ar, seja de flores ou maus odores; sentir o calor na pele, ou o frio nas bochechas. Há lembranças tão claras que besta fechar os olhos que revejo cada detalhe, no entanto, sentir já é outra história. Sentir a lembrança ainda não está ao meu alcance. Sentir o que ela me causa hoje em dia, tudo bem. Afinal, é essa sensação que me faz querer voltar, seja para consertar ou apenas intensificar.
      Tem uma memória, a propósito, que insiste em se esgueirar entre tantas outras. Tenho me perguntado "por que?", tenho tentado entender a fundo porquê ela reaparece com tanta frequência. Por que acordo no meu da noite e meu primeiro pensamento são nuances de seu sorriso? Foram tantas as vezes que te vi sorrir e hoje, só hoje, identifiquei esse danadinho que vem me atormentando. Hoje, felizmente, te vi depois de tanto tempo. Infelizmente, você me lembrou a razão de ser desse sorriso. Hoje descobri que ele não se trata de um sorriso, e sim de uma máscara. Você me fez acreditar por muito tempo que encontrava a felicidade em meus braços. Os mesmos braços que hoje te apertaram com tanta força de tanta saudade. E, coincidentemente, o mesmo sorriso me deu "oi". Ainda hoje, depois de tantos meses, eu não sou capaz de te despir dessa máscara, não é mesmo? Hoje a música que me lembrava você se tornou tão melancólica. Essa manhã o sol brilhava e teu olhar turvo. Estou lutando forte para não te deixar estragar tanto filme que aqui guardei. Tanta música que desperdicei. Tanta melodia que me fazia sorrir e hoje me dá uma sensação completamente oposta.
      Foram dois caminhos que seguiram direções opostas fisicamente. Apenas achei que emocionalmente estivéssemos na mesma página, nem que fosse só em parte do tempo, pelo menos maior parte do tempo. Poderia te agradecer por me livrar de uma ilusão, mas guardo o rancor de nem saber que havia essa ilusão. Minha vontade de voltar no tempo não pode consertar o que eu não sei onde se quebrou. Acho que talvez há defeitos que não podem ser reparados.

Thursday, November 26, 2015

#meuamigosecreto: a tag do momento

      Uma tag polêmica para quem não entende, e reconfortante para quem percebeu seu verdadeiro significado. Um mimimi que só deixa de ser mimimi quando enxergamos o motivo real de cada manifestação. Muito me entristece ver que algumas pessoas ainda não compreendem o motivo da luta, do movimento. No entanto, muito me alegrou e orgulhou ver que tantas pessoas que são meus amigos no facebook abraçaram a causa e se manifestaram. Vale ressaltar que muitas dessas pessoas são meus amigos de facebook e ponto. Pessoas que adicionei ou me adicionaram como amigo, mas nunca trocamos mais de três palavras. Pessoas que, apesar de distantes, me confortaram com as palavras.
      Ainda há muita gente que entende mal o feminismo e insiste em propagar sua ideia errônea sobre ele. Num mundo em que a informação vem como enchente para a gente e que basta um pouco de bom senso para verificar a veracidade delas, ser ignorante é escolha. Mas para quem ainda não entendeu o significado, aqui está:
"s.m. Doutrina cujos preceitos indicam e defendem a igualdade de direitos entre mulheres e homens.
Movimento que combate a desigualdade de direitos entre mulheres e homens.P.ext. Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.(Etm. do francês: féminisme)" 
Fonte: Dicio 
      O foco do texto não é o feminismo, mas era importante falar sobre isso para discutir essa tag linda de viver. Da mesma maneira que muita gente entende mal o movimento, muita gente entendeu mal a tag. Por isso me sinto na obrigação de esclarecer o intuito dela. A tag procura a denúncia, o desabafo, a identificação com as situações ali expostas. E como falei, procura abraçar à distância cada uma das pessoas que foram vítimas do machismo, da desigualdade.
      Não adianta discutir com algumas pessoas sobre o assunto, pois pessoas com argumentos sem fundamento, não conseguem validar o argumento do outro. Portanto, expor tais casos torna-se importante. Não é indireta. Nós não queremos que a pessoa responsável pelo trauma se sinta atingida, queremos que quem está lendo se sensibilize. Expor os casos de machismo ajuda a enxergar o machismo. Muita gente é machista sem saber, seja mulher ou homem. Nossa sociedade, infelizmente, nos ensinou e ensina muito sobre o machismo e como ser machista, por isso precisamos mudar. Os casos que seguem a tag não são mimimi, são a realidade, a triste realidade. E como a tag, esse texto é para abrir os olhos.
      Vamos falar de alguns casos e refletir sobre eles? Vamos!
#meuamigosecreto era mais que meu amigo, mas isso não impediu que ele abusasse de mim bêbada em um chão de banheiro falando "não" enquanto me tapava a boca
       "Mas se eles eram mais que amigos, qual o problema?" argumento ridículo para alguns, mas válidos para quem ainda não enxerga a seriedade de ser obrigado(a) a fazer algo que não quer. Quando alguém diz não, é não. Não tem algo mais nosso que nosso próprio corpo, e até acerca dele não podemos decidir o que fazer ou deixar de fazer?

#‎meuamigosecreto‬ já ganhou vários prêmios, tem mestrado, artigos publicados, todo mundo acha que ele é o máximo... mas ele acha que ficar bêbado e usar drogas é desculpa pra te constranger na balada, afinal, depois ele nem vai lembrar mesmo, né?
      E para quem acha que títulos e prêmios intelectuais definem a personalidade e conduta de alguém, está aí um bom exemplo de que não é bem assim que a banda toca. Ele vai esquecer o que fez, mas ela vai lembrar, não é mesmo? Quem faz a cena é ele, mas quem passa o vexame é ela.

‪#‎MeuAmigoSecreto‬ espancou a ex-namorada quando ela disse estar grávida. Enquanto chutava violentamente a barriga dela, berrava que ela era uma vadia que não sabia fechar as pernas. Ele era um coitado seduzido. Hoje ele posta conteúdo pró-feminismo no Facebook.
      Quando falamos que atitudes falam mais do que palavras. Ele pode ter se arrependido? Pode. Pode ter mudado? Pode. Mas será que ele. pelo menos, pediu desculpa? Será que ele se traumatiza tanto quanto ela? Não sei o que ele pode fazer para recompensá-la, ou até se existe algo que a faça. Sei apenas que antes mesmo de ferir o direito dela, de machucá-la fisicamente e psicologicamente, ele poderia ter parado por 2 segundos e refletido. Colocar a mão na cabeça, respirar fundo, suar frio agir como alguém que se solidariza e procura ajudar. Se ele tivesse feito qualquer uma dessas coisas, será que ele teria batido nela mesmo assim?

‪#‎meuamigosecreto‬ manipula e destrói a auto estima das meninas com quem se relaciona e deixa claro que elas não podem terminar com ele porque ninguém mais vai querer ficar com elas, que ele está fazendo um favor
      Vamos começar com os mindgames? Que tal tentar entender porque alguém tem que rebaixar, para se sentir nas alturas. Cadê a ideia linda de dar as mãos e crescermos todos juntos. Aliás, que tipo de favor é esse que invés de ajudar, só atrapalha? Ser dono do próprio umbigo não significa colocá-lo no centro do universo.

‪#‎meuamigosecreto‬ se posiciona contra a essa tag, diz que mandar indireta não ajuda em nada e que todas nós devemos resolver nossas questões pessoalmente. Ele só esqueceu de dizer que o mundo não está preparado para a sinceridade de sentimentos de milhares de mulheres que se doem e sofrem o machismo na pele diariamente, e que provavelmente ele escutaria ela falar e sairia dizendo para os amigos "aquilo é uma doida, desequilibrada e grosseira".
      Preciso falar mais alguma coisa?


      A tag não é indireta. Se fosse indireta, tinha tanta gente se doendo que não ia ter Pablo que desse jeito. Espero que nessa altura do texto, você que está lendo, tenha entendido a beleza e a necessidade da tag. Espero que, você que já entendia, tenha se sentido ainda mais representado ou representada. Falo nos dois gêneros sim, porque apesar da grande maioria ser um desabafo vindo de mulheres, vale lembrar que o machismo ataca de maneira independente. Homens e mulheres sofrem diariamente com comentários e atitudes machistas. Quer um mundo igualitário? Vamos começar respeitando, se conhecendo e reconhecendo.
      Espero que o momento dessa "tag" jamais passe.
     

Monday, November 9, 2015

Terceiro - Capital Belga

      Um pouquinho atrasada, mas queria muito falar da minha primeira viagem pela Europa estando tão perdida quanto a pessoa que estava comigo. Claro, morar numa cidade nova causa o mesmo impacto, ou semelhante, ao de viajar para uma cidade completamente estranha. As sensações que te são proporcionadas são inigualáveis em cada viagem, mas elas repetem padrões. A primeira viagem foi para Bruxelas. Primeira vez que viajei só nesse continente imenso e cheio de história. Para começar, devo agradecer imensamente à tecnologia que me permitiu chegar ao hostel sem muitas complicações. Óbvio, ainda me perdi pela estação em que meu ônibus parou, fiquei com medo de ter entrando no tram errado, passei umas 52 (com exagero) paradas para finalmente acabar com minha agonia e chegar na parada desejada. Não era o destino final, mas ainda assim já é uma realização maravilhosa. Saber que você não se perdeu em uma cidade que nunca foi, em um país que a língua mãe você não entende, já é um bom começo. Andei um pouquinho para chegar no hostel, mas achei sem muito esforço e sem muita agonia, por uma vez na vida. Chegar sozinha em um hostel e perceber que você é o único ser do sexo feminino naquele momento é um pouco assustador, devo dizer. Senti como se uma matilha de lobos me observasse como uma presa em potencial. Uma hora depois fui salva pelo queridíssimo companheiro de viagem e pudemos começar a traçar a viagem.
      Devo dizer que nossos planos antes de chegar mudaram completamente ao chegar. Dois inocentes que pensavam que seria possível viajar três cidades em três dias. Dois doentes, literalmente, que decidiram que Bruxelas era aventura suficiente para três dias. Se não fosse a falta de euro, de saúde e disposição, se não fosse a falta de planejamento, aí sim poderíamos ter cumprido com os planos. No entanto, eram muitos empecilhos para umas só viagem.
      Não sei ao certo como cada um gosta de viajar, mas em Bruxelas eu descobri como eu gosto. O bom de viajar é sentir a cidade, curtir, não planejar à risca cada minuto. Para aproveitar, não rola cronometrar. Sem muitos planos, no primeiro dia a gente caminhou pelo centro da cidade. Perdeu a noção das estações e ficou feito barata tonta procurando um jardim inexistente. Repare, flores não estão a vista durante todo ano, e dois aspirantes a biólogos demoraram um bom tempo para chegar a essa conclusão. Quando nos encontramos desesperados acabamos fazendo umas burradas como essa, é normal. Há males que vêm para o bem, e de tanto errar acabamos descobrindo coisas maravilhosas: galerias com lojas de chocolate lindas, porém caras; mercadinhos que mais pareciam um submundo; pessoas tão perdidas quanto a gente; e o melhor de tudo, encontrar, por acaso, o que estávamos procurando. Desse modo chegamos ao Delirium Café, o qual faz jus à sua fama, mas decepcionou dois brasileiros que estavam com sede de cervejas com gostinho brasileiro. Porque brasileiro saudosista é assim, paga o dobro ou o triplo do preço só para sentir sua naçãozinha de novo. No entanto, essa não foi a vez. Apesar do extenso cardápio com cervejas do mundo inteiro, a que desejávamos estava em falta. Como todo bom turista, não saímos de mãos vazias. Delirium abaixo, papo descontraído e deixando a nossa marca na mesa de madeira, saímos feliz e satisfeitos com a conquista de encontrarmos aquele lugar impossível de perder quando se está em Bruxelas.
      Os dias seguintes foram mais bem planejados, visto que tínhamos tempo e internet no hostel para evitar qualquer confusão quando estivéssemos no meio da cidade. De muita utilidade foi ter um celular com bateria duradoura e com GPS. Demorei algumas outras viagens para pegar as manhas do GPS, mas isso falo em outros capítulos. É possível que daqui há cinco anos ainda estarei escrevendo coisas sobre esse ano de ciências sem fronteiras com dicas, sensações, ideias. Foi muita experiência diferente que fica difícil compilar em poucas histórias, sem contar que alguns detalhes não vêm na hora que a gente que, não é mesmo?
      Enfim, o texto já está bem grandinho e faz meses que estou com o rascunho dele. Então deixemos ele por aqui. Organizarei melhor o cronograma de Bruxelas para depois dizer que valeu e não valeu a pena.

Thursday, October 1, 2015

Falando em...

      Que bonito! Mais uma vez deixei o blog a mercê das aranhas virtuais. Se tem uma coisa complicada para mim é manter hábitos. No entanto, como toda vez que me sinto mal, farei mais uma promessa pessoal de voltar a escrever. Escrever me alivia, me faz falta, me faz viajar em histórias reais e fictícias, às vezes até os dois tipos ao mesmo tempo. Quero escrever sobre a experiência de morar fora por quase um ano, dar dicas de viagens, mas sem deixar de lado meus bons velhos textos tirados lá do fundinho da minha imaginação.
      Falando em inspiração, devo dizer que fiquei muito decepcionada ao ver que um dos blogs que sempre me deixou preenchida de ideias para botar no papel (ou aqui). Era um blog que as próprias leitoras escreviam. Mas oi? Isso mesmo. As leitoras mandavam suas histórias, seus dramas, seus amores, suas saudades. Isso me inspirava, até hoje inspira. Algumas dessas histórias me marcaram e o mais engraçado é que nem conheço as autoras, mas sempre há o poder da identificação. Você lê aquelas palavras escritas por outra pessoa e podia jurar que foi você quem escreveu. É uma comunidade que se abraça com palavras e enxuga as lágrimas mesmo distante, ou sorri a felicidade do outro mesmo nem conhecendo. Era bonito, é bonito. Ele ainda está lá, afinal, apenas nem tem tido atualização desde 2014.
      Falando em data, 2014 foi um ano de mudança para mim também. Todo ano tem alguma mudança que marca, mas 2014 e 2015 tiveram transições fortes e ainda têm. Posso ter perdido uma fonte de inspiração, mas a vida me mantém cheia nesse aspecto. Pessoas, acontecimentos, observações. As pessoas podem te surpreender com coisas infinitamente maravilhosas, te proporcionando amizades tão grandes em tão pouco tempo que você achou que não seria possível. As pessoas também te decepcionam, são capazes de jogar anos para o ar como se fossem horas. Os acontecimentos podem ser impressionantes por um simples detalhe: uma frase que marca uma viagem, um mico que sempre é bom pagar de vez em quando, uma pegadinha que você faz com o colega, uma música que fica na sua cabeça. Já as observações, elas são instantaneamente um exercício para a mente criativa. Nem preciso falar muito por essa última, pois ela já fala por si só.
      Falando em vida e nas possibilidades que ela te proporciona, estou naquela fase em que a vida parece que ta tirando um descanso das aventuras e te deixando no tédio. Aquele tédio que mesmo tendo mil coisas para fazer, você faz absolutamente nada. Para exemplificar essa inutilidade que me assola: faz pelo menos três dias que escrevo esse texto. Três dias sendo muito otimista. E vamos terminar sem muita criatividade, porque é a vida...

Tuesday, January 20, 2015

Instituto da mente

      - VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO! - ela já gritava refletindo sua indignação diante da situação.
      Já era difícil suficiente ver sua irmã mais velha deitada numa cama, amarrada, confinada em uma clínica criada para, teoricamente, curar pessoas com distúrbios mentais. Agora eles queriam limitar as visitas de familiares para apenas um dia da semana. Não apenas de familiares, mas de qualquer ser humano que mostrasse o rosto. Nos momentos em que ninguém estivesse em seu quarto, ela não teria nada além da companhia das ataduras e dos remédios que a deixavam fraca demais para expressar qualquer emoção.
      A cena toda era tão insana que nem conseguia lembrar que insanidade tinha colocado a irmã ali. Discutir tais questões na frente daquele corpo que guardava uma personalidade tão amorosa, tão doce, e ao mesmo tempo tão forte, só a deixava com mais raiva. O que poderia ser tão grave que fez com que seu amor maior perdesse toda a sua essência para aqueles medicamentos? Fazia esforços para lembrar, mas tudo que lhe vinha à mente eram os bons momentos que haviam divido.
      Rir uma com a outra quando algo engraçado que era dito pelos pais que tentavam ferozmente se encaixar no dialeto dos "jovens". Rir da outra quando algo embaraçoso acontecia. Assistir programas de TV ridículos, porque a outra gostava tanto. Ouvir cada história emocionante que estava sendo contada, mesmo que não fosse infantil. Levar a culpa, para livrar a irmã inocente sem nunca pedir nada em troca. Brigar por assuntos banais, mas logo fazer as pazes.
      Tais lembranças só alimentaram sua indignação. Aquela pessoa ali deitada havia sacrificado muito por ela. Seu interior surtava, mesmo não achando que seu exterior fazia jus.
      - VOCÊS PIRARAM, NÃO FOI? POR QUE ESSA PORRA DESSA RESTRIÇÃO REPENTINA? - sentia veias saltando da sua testa.
      Eles estavam querendo impedi-la de ver a pessoa que sempre foi seu porto seguro. Já haviam lhe tirado metade, agora queriam tirar mais um pedaço. Ela sentia essas lascas se esvaindo por seus dedos. No fundo sabia que ela ainda estava ali, por isso nunca havia deixado de visitá-la, ainda que aquela parecesse a primeira vez que estava em pé naquele quarto. Tudo parecia estranho naquele momento. As peças não estavam se encaixando e sua raiva não a permitia ver além da indignação. Sua cabeça já não pensava de maneira coerente. Os rostos dos responsáveis por aquilo já não eram mais visíveis. Será que era assim que sua irmã a enxergava depois de toda aquela medicação? Será que sua irmã a reconhecia como antes? Será que ela lembrava do antes?
      Cada menor pensamento que lhe acontecia, contribuía para que sua paciência se tornasse inexistente. Nenhuma palavra era escutada vinda daqueles "profissionais". A situação em que passou a se ver parecia mais uma cena de um filme de terror doentio que brinca com os esconderijos da mente. Sem perceber, seus gritos já se tornavam a única coisa a ser escutada. Não mantinha mais nenhum filtro de palavras respeitosas que podia usar naquela ocasião. Percebeu uma coisa, porém. Percebeu que seu descontrole foi notado por aqueles rostos sem olhos, nariz ou boca. Percebeu que seu descontrole alarmou algo na mente doentia daqueles que trabalhavam para aquela instituição. Tais percepções não a impediram de continuar sua fúria. Nada lhe pararia na busca incessante para livrar sua irmã daquela prisão mental. Pelo menos era isso que ela achava.
      - Anestesie ela - uma voz assustadoramente suave e calma proferiu tais palavras. Únicas palavras que ela conseguiu escutar além das suas próprias.
      Por um momento seu silêncio foi conquistado por tal comentário. Sua mente, além de desprovida de filtros e furiosa, tornou-se confusa.
      "Anestesiá-la? Por que? Mais narcotizada do que ela está é impossível"
      Ao perceber a movimentação no quarto, sua mente foi clareando os pensamentos. Todos os rostos focados nela: na irmã lúcida, na irmã que estava de pé, na irmã furiosa, na irmã mais inexperiente. De repente, ela se sentiu cercada por todos os lados. Como se de três, eles passassem a ser vinte. O homem mais alto segurava uma seringa branca. O seu rosto fixado nela, como se fosse um predador prestes a dar o bote.
      Sem nem notar, seu rosto já estava coberto de lágrimas. Tentava procurar palavras para justificar seus acesso de raiva como qualquer outra coisa que não soasse como insanidade. Dessa vez, no entanto, foi presa na imobilidade de seus lábios. Olhou em volta em busca do rosto conhecido, o rosto que lhe traria paz. Quando finalmente conseguiu lançar um olhar de socorro para a irmã impossibilitada de levantar-se, se arrependeu de tê-lo feito. Aquela personalidade que tanto conhecia ali não mais estava. Seu semblante era tão frio quanto imaginava ser o dos predadores naquele momento. De sua boca saiu uma risada maléfica com o tom da voz da experiência, fazendo com que não a reconhecesse mais. Isso aumentou o desespero da fuga. sem analisar muito as possibilidades, correu pela porta de entrada. Atrás dela o predador mais veloz com a seringa em mãos. Ao fundo conseguia enxergar os outros caminhando calmamente em sua direção. Com o coração acelerado e os passos tentando acompanhar tal velocidade, decidiu não mais olhar para trás.
      Cinco segundos correndo, pareceram 50 anos perdidos. O baque consistente com a velocidade de seu pior predador derrubou suas forças. Fechou os olhos os mais forte possível enquanto sentia o metal frio entrando no seu pescoço. Apesar da brutalidade imprimida na seringa contra sua veia, o momento pareceu se arrastar em câmera lenta. A cada milésimo de segundo suas pálpebras afundavam mais e mais. Seu coração deveria acalmar, mas não era isso que sentia.
      Abriu os olhos rapidamente. O coração quase saindo pela boca. A claridade do quarto a deixou desnorteada por um tempo. Enquanto seu coração acalmava pela realização do pesadelo que havia acabado de ter, quis esfregar as mãos nos olhos para forçar melhor visibilidade. Apesar dos esforços, não conseguia se mexer. O desespero foi voltando e todo o seu corpo tento se libertar sem sucesso. Quando finalmente piscou mais algumas vezes, conseguiu ver sua mãos presas, seus pés atados. Tentou gritar por socorro, mas percebeu que até sua boca era refém. O silêncio foi rompido finalmente, não por ela, mas por uma voz familiar:
      - Esse é seu fim, metade inocente.

Friday, January 9, 2015

Mulher é, não é

      Mulher que é mulher corre atrás do que quer, seja um emprego, seja um sonho, seja um homem, ou até mesmo outra mulher. Não tem medo de se sentir só, menos ainda de admitir que precisa de companhia. Mulher que é mulher quer ser reconhecida pelas suas conquistas e não apenas pelas curvas de seu corpo. Sabe bem que a pessoa que ela procura não se deixa enganar por aparências. Mulher que é mulher não depende de um(a) parceiro(a), muitas vezes apenas acha a vida melhor com alguém para dividi-la. Não se deixa abater por uma rejeição. Põe logo na cabeça "se não reconheceu meus valores, não merece meus defeitos". Porquê sim, defeitos têm de ser merecidos também. De que adianta amigos que vão fazer comentários degradantes sobre suas falhas invés de te ajudar a superá-las?
      Mulher que é mulher não se deixa acreditar em revistas de moda. Não é porque você não parece com uma modelo que deixa de ser bonita. Sabe também que a melhor beleza não é a que se vê, mas a que se sente, a que é percebida. Mulher que é mulher é decidida até nas indecisões. Não se deixa abalar por comentários do tipo "tinha que ser mulher". Tinha mesmo. É o que ela é: mulher! Errando ou acertando. Mulher que é mulher é insegura, assim como os homens são, assim como meninas são, assim como garotos são. Pessoa que é pessoa, humano que é humano tem o direito da insegurança. Ninguém é 100% confiante. Ninguém é 100% nada. Do que adiantaria ser 100% alguma coisa e perder a chance de ser um pouco de muito? Qual seria a graça de poder ser definida em apenas uma palavra? Na real, quem quer ser uma só palavra? O interessante é se encontrar em diversos textos, livros, citações. O interessante é ser mais do que apenas a solidão de uma coisinha só. Nem o céu que na maioria das vezes é azul, é sempre o mesmo azul. A beleza do arco-íris não está só na sua capacidade de aparecer depois da chuva, mas na sua imensidão de cores. 
      Mulher que é mulher não quer ser rotulada por sua naturalidade mensal. Não é toda mulher que fica estressada. De nada adianta "ah, você está naqueles dias, não é?". Estando ou não, ela vai ficar ainda mais naqueles dias com esse tipo de comentário. Mulher que é mulher odeia se sentir "gorda", mesmo você afirmando quinze milhões de vezes que ela não está. Mulher que é mulher é contraditória sim. Não quer ser definida em uma só palavra, mas sua insegurança muitas vezes a derruba com meias palavras. Mulher que é mulher sabe enxergar soluções. Quando não consegue sozinha, não tem medo de pedir ajuda. Mulher que é mulher sabe cozinhar, seja comida ou um homem. A propósito, mulher dorme com quantas pessoas quiser, e o mais importante se ela quiser. Não é porque ela já deu pra vinte dois, que necessariamente tem que dar pro vigésimo terceiro. Seja qual for o número, grande ou pequeno, ela decide o que satisfaz ou não.
      Mulher que é mulher tem seus momentos de menina. Mulher que é mulher é livre para ser o que bem entender. Mulher que é mulher pode ser teimosa, mas o importante é saber reconhecer mais cedo ou mais tarde quem quer seu bem e faz de tudo para ajudar. Mulher que é mulher sabe que nunca será madura o suficiente, porque a vida nunca deixa de ensinar. E ela? Ela nunca quer parar de aprender.
       

Wednesday, January 7, 2015

Wake up call

      Don't you worry about us, don't you worry about me. I made a wrong call just because I was so used to your numbers. Don't you worry, honey. Just as I got used to your voice, I can get used to some others. Go focus your beutiful lies on someone else's mind. I'm no longer prone to fall for them. I do not deny that I was stupid enough to believe your every word. Amazing charm you spread all over when you are eager to get what you want, isn't it? And no, I'm not denying, I wasn't naive at all in the beginning. I don't blame you for the start, I blame you for how it ended. Such a sutil way to deceive, almost impossible to relize I was being played.
      Again, I'm not naive. You had your secrets, I had mine, but nothing compares. Nothing compares with how your truth was in front of me and I couldn't see. You truth being worse than mine. Your truth crushing every sign of hope. And the truth is not the problem, honey, oh no. Your lie from the first step towards me that got me angry. Piling up more and more lies you've gotten under my skin. Don't you worry, once again, about the drug that's inside. You are no irreplaceble vice. I'll put myself thorugh some therapies that only alcohol can create, but little by little it will consume you from my veins. Little by little I'll throw you away, just like you threw so many dark kisses at me.
      I tell you not to worry about us or me, because I think you should spend your time worrying about yourself. Being a good player for so long gives you some blind spots, darling. I may have being played for some time, but you, aw, you were played as well. I do not walk into a dangerous field without my own tactics. So, if I'm not mistaken, I'm under your skin as deep as you are under mine. You won't admit it, you can't admit it. Your truth holds you too tight to deviate your path. Something tells me you hid all of this for one reason, the reason you can't figure out just yet. Give it some time. Give it the time to miss my touch, my scent. Give it a time to realize how much it lost along the way, so it will be too late to regret, dear. Don't bother alluring me with your realizations, it will be too late for both of us. Even if I betray my manners and get slightly inclined to accept you with open arms, it will be too late. Keep my words, true words for once: time is short for us.