Wednesday, September 4, 2013

Apelo

      Ultimamente tem sido difícil dormir sem lembrar da sua voz cantarolando o amor que me faltava, é a canção de ninar mais doce, suave e eficaz que já conheci. Por que não te vejo mais? Queria ter em meus braços sua transparência novamente. Fico me perguntando, morena, quando você ficou tão difícil de se ler, quando comprou tantos cadeados para trancafiar seus pensamentos. Até me pergunto se o certo, na verdade, seria perguntar a razão e não o momento.
      Seus olhos, ah, seus olhos hipnotizavam como um relógio incansável de ponteiros parados. O que aconteceu com eles? Tão perdidos no tempo, procurando desesperadamente parecerem cansados para criar uma desculpa. Não se engane, morena, as pessoas percebem, as pessoas sabem. Você não está bem, o que lhe falta? O que lhe excede? Por que não extravasar e catar os pedaços para recomeçar? Vamos lá, eu te ajudo, nem precisa explicar nada, só me devolve o brilho no olhar, por favor.
      Acho que você se esqueceu de tudo que já me disse, de o quanto abomina seu passado insensível. Desgruda do que não te satisfaz e volta pro que te faz feliz. Sabe tão bem a fuga perfeita e continua deixando a opacidade te prender. Para de burrice, para de se afundar, você sabe nadar, eu sei que sabe. O que quer que esteja te puxando para baixo não tem boas intenções. Libera o que te puxa para as profundezas e ancora no raso.
      Volta, morena. Estou esquecendo o som da tua voz e já não consigo mais dormir. Não me faz ter que forçar minha memória, canta no pé do meu ouvido para aquecer meu corpo que deixou tão frio. Quem te fez isso, morena?  Eu vou espancar, prometo. Se for eu o culpado, não se preocupe, já será punição exacerbada não pertencer ao teu sorriso. Pode me privar de sua hipnose, se quiser, mas não priva o mundo, por favor. Deixa que das minhas olheiras, eu cuido, mas você tem que se cuidar também. Promete, morena. Tranquiliza minha insônia, pelo menos. Assegura-me que voltará a ser límpida como água, radiante como a maior das estrelas. Vai, meu sol, amanhece minhas noites intermináveis, mesmo que apenas aqueça outros planetas. Canta, morena, canta.

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