Monday, February 6, 2017

Sobre relacionamentos vazios

We heart it
          Comecei a enxergar tudo por uma outra perspectiva. Só depois de muito tempo me dei conta que seu braço repousava na minha cintura enquanto estava deitada. Parecia que sua presença não fazia diferença. Na verdade, aterrorizava. Senti como num filme de terror que a mão misteriosa vai encostando na mocinha e ela não sabe de onde veio. Após o susto, tudo some. Você não sumiu. Estava mesmo ali. E eu fiquei debatendo com meus sentidos e meu senso. Queria entender o que aquilo significava. Por tantas vezes estive envolta de pessoas e me sentia só. Situação tal que me desmontava e me rebaixava ao buraco que sempre cavo mais fundo. Dessa vez foi diferente. Antes me sentia o acessório dispensável. Dessa vez, você era o chaveiro que de nada servia para abrir a porta. Inutilmente, eu também estava desprovida dessa capacidade.
          Dois cacos de vidro que não havia cola que juntasse. Bordas que não eram compatíveis, não importava as diferentes formas de encaixe. Duas paredes que não sustentavam teto algum, abandonadas e paralelas. Assumindo diferentes cores, apenas para disfarçar as ranhuras. Percebi que você não interfere em mim. Tua função na minha vida não é diretamente proporcional à minha visão de mim mesma. Você pode estar ali na cadeira ao lado, ou na cidade seguinte. Tua presença não vai mudar meu ser e estar. Eu tenho que ser antes mesmo de você conseguir me ver, Você tem que estar antes mesmo de eu perceber. De nada adianta um gato correndo atrás do próprio rabo. Enquanto você for meu espelho, não serei própria. Na tentativa de ser o reflexo do que você precisa, eu acabo por perder o que sou. Esquecendo de te mostrar tudo que dentro de mim há. Criando assim uma série de imagens superpostas de possibilidades irreais. Dois espelhos tentando se refletir, acabam se perdendo em si.
          Você sumiu e eu também. Minha cabeça no teu peito e nenhum coração batendo. Teu corpo colado no meu e nenhum calor sentido. Dois cacos em uma casa sem telhado. Duas paredes querendo mais tijolos para se encontrarem. Dois pedacinhos de vidro se quebrando para se encaixar de qualquer forma. Duas pessoas querendo mais, quando já tinha o suficiente dentro de si.

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