Thursday, November 24, 2011

Sob efeito de um veneno

   São três da manhã e minha consciência não está nada consciente. Vou fechar os olhos para enxergar alguma coisa. Muitas imagens... passado se confundindo com histórias que idealizei, futuro deturpado por indecisões presentes.
   Esse sofá está tão confortável. Ok, a cozinha fica há dois passos daqui, mas não é minha culpa se a minha mente expansiva só consegue me proporcionar um apartamento minúsculo.
   O que é aquilo? Ah, deixa pra lá. Minha cabeça está girando demais para conseguir qualquer foco naquele objeto azul.
   Eu tinha alguma coisa para resolver...piada! Não consigo ficar sóbrio e acho-me capaz de solucionar algum problema maior que pagar essas contas medíocres.
   Contas, contador. Por que fui escolher essa maldita profissão? Eu não sou nada feliz fazendo isso. Na verdade, eu não sou nada feliz e ponto final.
   A última vez que fui feliz...como esquecer...é o motivo de toda minha atual tristeza.
   São seus lábios, o vermelho da sua boca. A fartura dos teus seios. O vestido colado...maldito álcool, me fazendo pensar em besteira.
   Besteira...
   Você nunca foi besteira pra mim. Besteira era o que eu fazia contigo, mas você também forçava a barra. Só porque era perfeita se achava no direito de sair flertando com todo homem que cruzava seu caminho. Ainda tinha a cara-de-pau de dizer que era coisa da minha cabeça. Coisa da minha cabeça, tão pirada você.
   Até parece que um homem não sabe quando sua mulher está lhe escapando por entres os dedos. Eu não ia ter perder pra outro, nunca.
   Fico me perguntando se aquelas mensagens que estavam no seu celular eram códigos que você usava com aqueles filhos de uma puta para me trair sem eu saber. Cada letra que eu lia ali, tentava interpretar...e em minha cabeça muita coisa fazia sentido. Eu ficava com tanta raiva! Puta que pariu...
   Mas...eu não podia dizer nada. Não queria que você pensasse que eu era um monstro alimentado por ciúme. Porque eu não era! Nem sou!
   Por isso eu me aproveitava dos momentos que você trocava olhares com desconhecidos para tirar satisfações. Sintia-me no comando quando finalmente colocava toda aquela angústia para fora. Passávamos horas e horas gritando um com o outro.
   Gritos...eles não funcionavam contigo. Por isso deixei tua boca vermelha naquele dia e te chamei de vadia. Mereceu aquele soco para quebrar tua cara de madeira.
   Eu te coloquei na linha, sabia? Se não fosse por mim, você estava dando pra qualquer cara que aparecesse na tua frente e mostrasse um pouco de simpatia.
   Eu te pintei todinha. Barriga roxa, curativo branco no braço, inchaço meio esverdeado na tua coxa. A medida que você fazia minha cabeça pesar, eu fazia teu corpo latejar.
   Você sempre voltava, pedindo perdão. Eu te tinha na palma da mão...eu te amava.





   Que sol do caralho! Que dor de cabeça maldita. Minhas costas estão me matando. Por que fui dormir no chão? Preciso comprar um sofá.
   Mal consigo lembrar o que bebi ontem.
   Ah! Uma garrafa inteira de whisky.
   O que é isso?
   É sangue! E essas gotas... são de sangue também.
   Puta que pariu! O que eu fiz?
   Meu Deus! Teu vestido azul, todo ensaguentado. O meu favorito...
   Não, por favor não. Acorda! Acorda! Respira!
   Vadia, respira, porra!
   O que eu fiz?
   Não, não fui eu. Foi você! Você que ligou para aquele seu amigo tarado.
   Estou lembrando...foi tudo culpa sua. Você que pediu isso...
   

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