Saturday, November 3, 2012

Beco sem saída

      Ficava brincando com meus olhares, enquanto eu tentava desviar a atenção para qualquer outro ponto daquele lugar. Você sendo o sul do meu norte e ficando impossível fugir desse magnetismo. As luzes coloridas me sacaneavam levando todo foco para o canto que você estava. A música parecia ser escolhida minuciosamente por seus quadris.
      - Garota, me diga o que você quer de mim - eu pensava.
      Uma bebida, duas, três. O suor do prazer descendo e molhando minhas vestes. Virei minhas costas para  respirar o ar que não me levava a você. Troquei palavras com amigos, dancei com desconhecidas. Distração para mente concentrada é enganação. Olhei no espelho e vi você ao meu lado, distante, mas comigo. Apenas queria ser corajoso o suficiente para agarrar aquela cintura perto de mim e te fazer sentir o que estava sentindo.
      Quatro, cinco, seis. Um pouquinho mais de álcool para acalmar as vontades. Merda. Claro que isso só ia potencializar o desejo de despir seu corpo e rasgar seu veludo. Um passo em sua direção. Pernas começando a amarelar. Dois passos para trás. De volta para o bar. Sete, oito, nove. Minha cabeça já girava mais rápido que seus rebolados. Pés caminhando sozinhos e seguindo o curso natural da luxúria.
      Finalmente podia sentir seu cheiro e isso só me deixava com a pele pegando fogo.
      - Olá - foi a bosta que falei.
      Esperta era você, que me respondeu sem palavras. Com um sorriso malicioso e olhos vampirescos, se aproximou. Abraçou meu pescoço e embalou meu corpo no ritmo do seu. Vagarosamente enroscava em mim, rapidamente aumentava minha sede.
      Com o lugar lotado tive de contar meu animal que estava pronto para devorar a presa aparentemente indefesa, mas você tinha tudo muito bem pensado, não é?
      - Vem comigo - com os lábios pintados de vinho sussurrou com ar erótico em meus ouvidos.
      Sem sinal de recusa agarrou minha mão e me tirou da multidão. As cores das luzes iam sumindo e se resumindo a escuridão. Passamos por uma porta que nunca havia notado. Logo estávamos a sós em um beco pouco iluminado e com o frio da cidade.
      A vampira avermelhou meu pescoço, agarrou meu cabelo. Abriu minha boca em um gemido. Era ali. Nem no momento mais sóbrio da minha noite eu poderia imaginar que conseguiria sentir tanto prazer com um só toque. Não podia parecer abobalhado, agarrei sua cintura, desci para o quadril. Apertei a bunda voluptuosa daquela mulher que sugava qualquer ponta de inocência que ainda poderia haver em mim. Nossos lábios apressados insinuavam libertinagem. Uma cena pouco vista, mas muito frequente entre quatro paredes. Mãos correndo para o centro da euforia. A baixa temperatura parecia não existir, pois os corpos transpiravam. Calças baixadas, vestido acima do umbigo. A dança dessa vez intencionava satisfação. Suas garras afiadas rasgavam minha carne e isso só me deixava com mais anseio de sangrar tua exaltação. Apertava meu corpo contra o teu. Os gemidos, que iniciaram em um volume muito baixo para ser escutado por qualquer um que decidisse andar pela calçada mais próxima, viraram gritos. O ritmo da música que criávamos ficava mais rápido e tudo que mais queríamos estava cada vez mais próximo.
      Um último arranhão em minhas costas, uma última lambida em seu pescoço, um último gemido simultâneo e estávamos completos mesmo descarregando um pouco de nós. Olhei para o céu pouco estrelado e ouvi uma voz trêmula vinda de baixo:
      - Minha casa ou a sua?

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