Friday, November 2, 2012

Túnel

      As luzes escurecendo, o corredor se distanciando. Sua imagem se modificava. Eu nunca quis nada além do que tivemos. Tudo era perfeito enquanto estava perto da sua respiração, do seu toque, do seu calor. Até a raiva que fervilhava em nossas discussões parecia melhor que qualquer beijo com qualquer outro alguém.
      Meu corpo não correspondia aos meus desejos e eu não conseguia lutar contra aquela força, pois não tinha mais suor, imagine sangue para guerrilhar com unhas e dentes pela única coisa que balançava minhas pernas, cansava minha mente, vencia minha dor. Queria te ter para mim e nada mais seria necessário. Meu diabinho, no entanto, gritava no pé do meu ouvido "você precisa crescer". Nunca havia entendido o apelo do maldito até o dia em que sorrir depois de muita lágrima não anulou o sofrimento.
      Pedir desculpas não vai desfazer qualquer uma das minhas atitudes que te fizeram correr de mim. Mesmo que eu tivesse essa opção, não iria escolhê-la. Entendi o que quer dizer crescer, o que quer dizer finalmente perceber que o que eu achava que me levava para frente só me puxava para trás. Não me leve a mal. Eu te amava. Mentira. Eu te amo. Não consigo parar de pensar em todas as cenas de reconciliação para o dois que já foi um.
      Aqui estou, fragilizada por dentro, machucada, cansada, saturada. Quero seus olhos fitando os meus, quero me humilhar chorando aos seus pés e fazer tudo voltar ao primeiro momento de nossas vidas entrelaçadas. Fico em pé, parada. Deixo o corredor embaçar sua figura. Não corro, não grito. Fico ali, deixando o curso natural das coisas curarem essa vontade, esse amor malcriado. Viro minhas costas para aquilo que um dia chamei de "para sempre", dessa vez eu caminho, não na direção que me puxava para o fracasso, mas na direção que eu julguei ser sucesso. Quebrei as correntes invisíveis, joguei o cadeado no lago dos sem salvação. Libertei o que costumava chamar de "eu".

No comments:

Post a Comment