Thursday, October 27, 2011

Divã de Ouro

   Todo dia acordo pensando na hora que vou dormir de novo. De fato, a vida está uma merda.
   Desculpa o palavreado, Doutor, mas lembro que você disse: deixemos a formalidade de lado.
   É... tá uma merda bem grande.
   Eu não deveria reclamar o tanto que reclamo, né? Afinal de contas, tenho um carro bom, uma casa para morar, um salário bem melhor que o seu - desculpa, mas é verdade - por que não consigo ser feliz?
   Bem que disseram que dinheiro não compra felicidade...
   Paro e penso. Eu fodo muito as coisas. Só pode!
   Casado com uma mulher que só transa comigo na intenção de engravidar, para depois pedir a porra de um divórcio e me deixar falido.
   Ela nem vai amar a criança. Vai tê-la como um boneco premiado.
   Puta que pariu!
   Ela deve me trair com nosso motorista...
   Sou um idiota hipócrita! Talvez a culpa seja minha e desse meu coração traiçoeiro.
   Casei porque achei que nunca ia amar e me apaixonei pela minha estagiária.
   Ela não sabe. Nenhuma delas sabe.
   A Carla... tudo começou porque eu a achei muito gostosa e seria maravilhoso ter uma visão privilegiada daquele corpo todas as manhãs.
   Só visão mesmo. Não sou cara de trair.
   Mas ela... ela é muito mais do que fogo que queima a distância. É o espírito, a áurea dela que apaixona.
   É a mulher que desejo dia e noite.
   Nunca fui romântico , mas quando penso nela...
   Doutor, eu não sei o que é isso. Eu nunca fui sensível, mas...
   Não sei nem o que dizer.
   Que merda!
   Ainda tenho que lidar com meu irmão sanguessuga que não faz porra nenhuma da vida.
   O papai já tentou empregá-lo na empresa, mas ele é um paspalho. Burro!
   Odeio meu irmão, odeio minha mulher. Como posso viver?
   As únicas coisas que me alegram são minha conta bancária e a Carla.
   Já mencionei que tenho uma sobrinha? Ela também me faz feliz.
   Tão pequena, inocente.
   Saudade da minha infância...

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